FALTA SALVARMOS BRADLEY MANNING, O ÚLTIMO HERÓI ESTADUNIDENSE
Os EUA sinalizam um acordo diplomático com a
Grã-Bretanha para permitir que Julian Assange, o fundador do Wikileaks,
seja exilado no Equador. No entanto, há o drama de Brad Manning, o jovem soldado que, envolvido
na violação de sigilo de diversos documentos políticos nos EUA, não teve
direito a julgamento e ainda é preso em condições humilhantes, além de
sofrer torturas, num vergonhoso exemplo de desrespeito aos direitos
humanos na dita "maior democracia do planeta".
FALTA SALVARMOS BRADLEY MANNING, O ÚLTIMO HERÓI ESTADUNIDENSE
Por Celso Lungaretti - Blogue Náufrago da Utopia
É alvissareiro e reconfortante que a tramóia contra Julian Assange esteja dando com os burros n'água. Outro Cesare Battiti foi arrancado das garras dos inquisidores. Devemos nos orgulhar --e muito!-- destas vitórias improváveis que estamos conseguindo obter, contra as piores forças políticas do planeta e a incessante lavagem cerebral efetuada pela grande imprensa.
Mas, no Caso Wikileaks, falta ainda a tarefa principal: salvarmos Bradley Manning da destruição psicológica a que o estão submetendo. Não podemos descansar enquanto ele estiver em prisões militares que mais parecem masmorras medievais.
Para reavivar a memória dos companheiros, eis o artigo que escrevi sobre ele há 15 meses, O heróico Bradley Manning está sofrendo terríveis retaliações. Nada mudou. Continuamos devendo-lhe esforços mais incisivos, proporcionais ao extraordinário serviço que ele prestou à causa do resgate da verdade, com depreendimento, arrojo e coragem.
Os filmecos de tribunal com que Hollywood fetichiza a justiça estadunidense são uma comprovação da frase de Joseph Goebbels, de que, de tanto se martelar uma mentira, ela acaba passando por verdade.
É claro que, em meio a centenas (quiçá milhares, incluindo os seriados de TV) de fitas medíocres e enganadoras, podemos pinçar alguns clássicos, a cumprirem o papel de exceções que só servem para confirmar a regra.
De pronto, lembrei-me de 12 homens e uma sentença (1957) e O Veredicto (1982), do grande Sidney Lumet; O sol é para todos (1962), de Robert Mulligan; Testemunha de Acusação (1957), de Billy Wilder; Anatomia de um crime (1959), de Otto Preminger; Julgamento em Nuremberg (1961), de Stanley Kramer; e Justiça para todos (1979), de Norman Jewison.
Acrescentados os que não me tenham ocorrido, os salvos do incêndio deverão totalizar uma dezena, no máximo duas. O resto não passa de tralha cinematográfica mesmerizante.
Eu era muito jovem quando, lendo A tragédia de Sacco e Vanzetti (1953), de Howard Fast, cai na real: o grotesco linchamento com tinturas legais dos dois anarquistas italianos era a realidade; e a infabilidade das sentenças estadunidenses, na qual seriados como Perry Mason tanto nos queriam fazer crer, não passava de piada de mau gosto.
Depois, ao longo da minha vida adulta, fui tomando conhecimento de muitos outros exemplos, com destaque para as aberrações jurídicas do macartismo e para o premeditado assassinato de dois pobres laranjas (o casal Rosenberg) como bodes expiatórios de um delito cujos principais responsáveis só poderiam ser cientistas.
A partir do atentado contra o WTC, multiplicaram-se as arbitrariedades contra os acusados que os EUA despejaram no centro de torturas de Guantánamo, para tratá-los como animais longe das vistas de seus respeitáveis cidadãos.
Graças ao heróico soldado Bradley Manning, que forneceu ao Wikileaks as provas dos podres, o mundo ficou sabendo, p. ex., que cerca de 150 pessoas inocentes ficaram presas durante períodos variáveis (até por vários anos) em Guantánamo, sem julgamento nem nada, apenas por terem a ascendência errada ou haverem sido encontradas perto do lugar errado e na hora errada, sem nenhum motivo concreto respaldando as suspeitas de envolvimento com ações terroristas.
É a razão de estado falando mais alto do que a justiça e os direitos humanos -- exatamente a acusação que os EUA sempre fizeram aos países do chamado socialismo real. Nada como um dia depois do outro.
O CALVÁRIO DE MANNING
E, por haver escancarado a nudez do rei, o próprio Manning está sofrendo terríveis retaliações -- como, aliás, sempre aconteceu nas ditaduras apoiadas pelos EUA no mundo inteiro. O serviço sujo volta a ser feito também em casa.
É esta a face que o império mostra para os que ousam confrontá-lo ou atingir seus interesses; o dr. Jekyll não precisa de poção nenhuma para virar mr. Hyde.
Sim, passada a eleição, ele pode...
dar uma banana p/ direitos humanos
Porque, na verdade, é monstruoso em sua essência e benigno apenas na aparência forjada e impingida pela indústria cultural.
Estes trechos de uma notícia deste domingo (1º), que Andrea Murta enviou de Washington, dão uma boa idéia da malignidade do monstro:
"Durante o tempo encarcerado, Manning, 23, foi submetido ao que seus defensores classificam como punição extrema pré-julgamento.
O soldado ainda não teve sua primeira audiência, agendada para ocorrer em junho e ficou confinado em solitárias, sem exposição à interação humana, a exercícios e à luz do sol.
Na semana passada, ele finalmente foi transferido para uma prisão no Kansas, onde poderá conviver com outras pessoas.
...segundo o 'Free Bradley Manning', uma rede de apoio que paga a defesa do soldado, há várias razões para maus-tratos.
A primeira seria que os militares sabem que o caso contra Bradley não é tão forte quanto anunciam e, caso ele seja inocentado, querem garantir alguma punição que sirva de alerta a outros no futuro', disse (...) Jeff Paterson, porta-voz do grupo.
O ex-porta-voz do Departamento de Estado PJ Crowley (...) disse que o tratamento dado a Manning é 'ridículo, contraproducente e estúpido'. Ele renunciou pouco depois.
O presidente [Obama] também sofreu o constrangimento de ver um ex-professor assinar um manifesto de juristas criticando as condições da detenção. Um representante da ONU foi outro a protestar.
Paterson diz que o soldado já não é o mesmo. 'Quando recebe visitas, leva um tempo até que a parte do cérebro ligada à interação social volte ao normal e ele se lembre de como conversar. Isso não faz mais parte de sua rotina.'"
O martírio do último herói estadunidense está prestes a completar um ano. Para quem quiser saber o que ele sofreu durante os (felizmente findos!) 11 meses de detenção no DOI-Codi... quer dizer, numa base dos fuzileiros navais na Virgínia, recomendo a leitura de A prisão infernal de Bradley Manning.
É alvissareiro e reconfortante que a tramóia contra Julian Assange esteja dando com os burros n'água. Outro Cesare Battiti foi arrancado das garras dos inquisidores. Devemos nos orgulhar --e muito!-- destas vitórias improváveis que estamos conseguindo obter, contra as piores forças políticas do planeta e a incessante lavagem cerebral efetuada pela grande imprensa.
Mas, no Caso Wikileaks, falta ainda a tarefa principal: salvarmos Bradley Manning da destruição psicológica a que o estão submetendo. Não podemos descansar enquanto ele estiver em prisões militares que mais parecem masmorras medievais.
Para reavivar a memória dos companheiros, eis o artigo que escrevi sobre ele há 15 meses, O heróico Bradley Manning está sofrendo terríveis retaliações. Nada mudou. Continuamos devendo-lhe esforços mais incisivos, proporcionais ao extraordinário serviço que ele prestou à causa do resgate da verdade, com depreendimento, arrojo e coragem.
Os filmecos de tribunal com que Hollywood fetichiza a justiça estadunidense são uma comprovação da frase de Joseph Goebbels, de que, de tanto se martelar uma mentira, ela acaba passando por verdade.
É claro que, em meio a centenas (quiçá milhares, incluindo os seriados de TV) de fitas medíocres e enganadoras, podemos pinçar alguns clássicos, a cumprirem o papel de exceções que só servem para confirmar a regra.
De pronto, lembrei-me de 12 homens e uma sentença (1957) e O Veredicto (1982), do grande Sidney Lumet; O sol é para todos (1962), de Robert Mulligan; Testemunha de Acusação (1957), de Billy Wilder; Anatomia de um crime (1959), de Otto Preminger; Julgamento em Nuremberg (1961), de Stanley Kramer; e Justiça para todos (1979), de Norman Jewison.
Acrescentados os que não me tenham ocorrido, os salvos do incêndio deverão totalizar uma dezena, no máximo duas. O resto não passa de tralha cinematográfica mesmerizante.
Eu era muito jovem quando, lendo A tragédia de Sacco e Vanzetti (1953), de Howard Fast, cai na real: o grotesco linchamento com tinturas legais dos dois anarquistas italianos era a realidade; e a infabilidade das sentenças estadunidenses, na qual seriados como Perry Mason tanto nos queriam fazer crer, não passava de piada de mau gosto.
Depois, ao longo da minha vida adulta, fui tomando conhecimento de muitos outros exemplos, com destaque para as aberrações jurídicas do macartismo e para o premeditado assassinato de dois pobres laranjas (o casal Rosenberg) como bodes expiatórios de um delito cujos principais responsáveis só poderiam ser cientistas.
A partir do atentado contra o WTC, multiplicaram-se as arbitrariedades contra os acusados que os EUA despejaram no centro de torturas de Guantánamo, para tratá-los como animais longe das vistas de seus respeitáveis cidadãos.
Graças ao heróico soldado Bradley Manning, que forneceu ao Wikileaks as provas dos podres, o mundo ficou sabendo, p. ex., que cerca de 150 pessoas inocentes ficaram presas durante períodos variáveis (até por vários anos) em Guantánamo, sem julgamento nem nada, apenas por terem a ascendência errada ou haverem sido encontradas perto do lugar errado e na hora errada, sem nenhum motivo concreto respaldando as suspeitas de envolvimento com ações terroristas.
É a razão de estado falando mais alto do que a justiça e os direitos humanos -- exatamente a acusação que os EUA sempre fizeram aos países do chamado socialismo real. Nada como um dia depois do outro.
O CALVÁRIO DE MANNING
E, por haver escancarado a nudez do rei, o próprio Manning está sofrendo terríveis retaliações -- como, aliás, sempre aconteceu nas ditaduras apoiadas pelos EUA no mundo inteiro. O serviço sujo volta a ser feito também em casa.
É esta a face que o império mostra para os que ousam confrontá-lo ou atingir seus interesses; o dr. Jekyll não precisa de poção nenhuma para virar mr. Hyde.
Sim, passada a eleição, ele pode...
dar uma banana p/ direitos humanos
Porque, na verdade, é monstruoso em sua essência e benigno apenas na aparência forjada e impingida pela indústria cultural.
Estes trechos de uma notícia deste domingo (1º), que Andrea Murta enviou de Washington, dão uma boa idéia da malignidade do monstro:
"Durante o tempo encarcerado, Manning, 23, foi submetido ao que seus defensores classificam como punição extrema pré-julgamento.
O soldado ainda não teve sua primeira audiência, agendada para ocorrer em junho e ficou confinado em solitárias, sem exposição à interação humana, a exercícios e à luz do sol.
Na semana passada, ele finalmente foi transferido para uma prisão no Kansas, onde poderá conviver com outras pessoas.
...segundo o 'Free Bradley Manning', uma rede de apoio que paga a defesa do soldado, há várias razões para maus-tratos.
A primeira seria que os militares sabem que o caso contra Bradley não é tão forte quanto anunciam e, caso ele seja inocentado, querem garantir alguma punição que sirva de alerta a outros no futuro', disse (...) Jeff Paterson, porta-voz do grupo.
O ex-porta-voz do Departamento de Estado PJ Crowley (...) disse que o tratamento dado a Manning é 'ridículo, contraproducente e estúpido'. Ele renunciou pouco depois.
O presidente [Obama] também sofreu o constrangimento de ver um ex-professor assinar um manifesto de juristas criticando as condições da detenção. Um representante da ONU foi outro a protestar.
Paterson diz que o soldado já não é o mesmo. 'Quando recebe visitas, leva um tempo até que a parte do cérebro ligada à interação social volte ao normal e ele se lembre de como conversar. Isso não faz mais parte de sua rotina.'"
O martírio do último herói estadunidense está prestes a completar um ano. Para quem quiser saber o que ele sofreu durante os (felizmente findos!) 11 meses de detenção no DOI-Codi... quer dizer, numa base dos fuzileiros navais na Virgínia, recomendo a leitura de A prisão infernal de Bradley Manning.
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