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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 24, 2012

Incêndio em favela deixa 600 pessoas desabrigadas


Incêndio de grandes proporções em favela na Vila Prudente foi o vigésimo quinto este ano em São Paulo 
Por Felipe Rousselet
Incêndio destruiu quase totalmente a favela da região da Vila Prudente (Foto: Reprodução / Google Maps)
Mais um incêndio de grandes proporções atingiu uma favela de São Paulo no final da tarde de ontem (23). Desta vez, o fogo destruiu 95 das 105  moradias de uma favela localizada na rua Capitão Pacheco e Chaves, na região da Vila Prudente. Ainda não é conhecida a causa.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, as chamas começaram por volta das 17h25, e foram controladas pela corporação cerca de uma hora depois. O trabalho de rescaldo do terreno de 2.000 metros quadrados continuou até as 21h.
Segundo a Defesa Civil, 163 famílias ficaram desabrigadas, aproximadamente 600 pessoas, perderam suas casas. As famílias serão alojadas na escola de samba Cabeções do Ipiranga, que fica ao lado da favela.
Vinte e três viaturas do Corpo de Bombeiros foram deslocadas para o local para combater o fogo. Ao todo, 70 homens trabalharam para apagar o incêndio. Não houve registro de feridos.
Por conta do trabalho dos bombeiros, a CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) precisou bloquear as ruas a rua e o viaduto Capitão Pacheco e Chaves e também a avenida Henry Ford. O trânsito foi liberado por volta das 19h.
Para o coordenador geral da FLM (Frente de Luta por Moradia), Osmar Silva Borges, incêndios como o de ontem decorrem da omissão do poder público. “São tragédias anunciadas. A gente fala que todas as favelas de São Paulo são tragédias anunciadas, mas o governo não age para melhorar as condições de moradia do pessoal que mora nas favelas. Ou seja, fazer urbanização, as melhorias das habitações. O governo deixa na condição de abandono”, afirmou.
CPI dos Incêndios em Favela 
Até o dia 14 de agosto, a Defesa Civil havia registrado 24 grandes incêndios em favelas de São Paulo em 2012. Entre 2007 a 2011 aconteceram 262, a maioria com causas desconhecidas. Inclusive, os incêndios são o tema uma investigação da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) Câmara Municipal de São Paulo.
Na matéria “O Fogo contra as favelas”, escrita pelo jornalista Igor Carvalho e publicada na Revista Fórum, o arquiteto Nabil Bonduki afirma que a possível relação entre os incêndios em favelas e o mercado imobiliário deveria ser investigada. “Existe um boom imobiliário em São Paulo, eles buscam desesperadamente terrenos (…) Obviamente, as favelas são um incômodo para o entorno. Eu acredito, sim, que os incêndios possam ser criminosos. Não estou acusando ninguém, mas é uma desconfiança que mereceria uma investigação.” A blogueira Maria Frô também questionou essa relação em um post publicado em seu blogue. “O curioso que os incêndios sempre acontecem em favelas cujo entorno crescem prédios de alto padrão”, disse.
Borges, da FLM, foi outro que comentou a relação entre a especulação imobiliária e os incêndios em favelas de São Paulo. “Esse incêndio da Vila Prudente é um exemplo prático de tudo que estou dizendo. E, em alguns casos, onde há especulação imobiliária, você pode ter os incêndios criminosos,, porque a especulação imobiliária quer expulsar as pessoas do bairro. Aquela região da Vila Prudente valorizou muito por causa do metrô, shopping center. Então, a favela não é um atrativo naquela região”, afirmou.
Apesar de todos estes questionamentos por parte de movimentos sociais, especialistas e da imprensa, a CPI dos Incêndios em Favelas não saiu do lugar desde que teve início em maio. Somente as duas primeiras reuniões puderam ser realizadas, mas elas só trataram de aspectos legais para a instalação da CPI. Todos os outros encontros tiveram que ser cancelados por falta de quorum.
A Comissão é dominada por partidos que compõem a base aliada do prefeito Gilberto Kassab.  O PT, que teria direito a duas vagas na CPI, abriu mão deste direito por ter decidido que não participaria de nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito até que a CPI do Hospital Sorocabana fosse instalada. Uma das vagas foi oferecida ao vereador Jamil Murad, do PC do B, que a recusou por já participar de três CPI’s e ser o líder do seu partido na casa.
A próxima reunião da Comissão está marcada para 29 de agosto. O prazo de 120 dias para a investigação termina no dia 9 de setembro. Pelo histórico da CPI, é provável que ela termine sem sequer ter nomeado seu relator e o vice-presidente.
*sdpresso

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