Incêndio em favela deixa 600 pessoas desabrigadas
Incêndio de grandes proporções em favela na Vila Prudente foi o vigésimo quinto este ano em São Paulo
Por Felipe Rousselet
Mais um incêndio de grandes proporções
atingiu uma favela de São Paulo no final da tarde de ontem (23). Desta
vez, o fogo destruiu 95 das 105 moradias de uma favela localizada na
rua Capitão Pacheco e Chaves, na região da Vila Prudente. Ainda não é
conhecida a causa.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, as
chamas começaram por volta das 17h25, e foram controladas pela
corporação cerca de uma hora depois. O trabalho de rescaldo do terreno
de 2.000 metros quadrados continuou até as 21h.
Segundo a Defesa Civil, 163 famílias
ficaram desabrigadas, aproximadamente 600 pessoas, perderam suas
casas. As famílias serão alojadas na escola de samba Cabeções do
Ipiranga, que fica ao lado da favela.
Vinte e três viaturas do Corpo de
Bombeiros foram deslocadas para o local para combater o fogo. Ao todo,
70 homens trabalharam para apagar o incêndio. Não houve registro de
feridos.
Por conta do trabalho dos bombeiros, a
CET (Companhia de Engenharia e Tráfego) precisou bloquear as ruas a rua e
o viaduto Capitão Pacheco e Chaves e também a avenida Henry Ford. O
trânsito foi liberado por volta das 19h.
Para o coordenador geral da FLM (Frente
de Luta por Moradia), Osmar Silva Borges, incêndios como o de ontem
decorrem da omissão do poder público. “São tragédias anunciadas. A gente
fala que todas as favelas de São Paulo são tragédias anunciadas, mas o
governo não age para melhorar as condições de moradia do pessoal que
mora nas favelas. Ou seja, fazer urbanização, as melhorias das
habitações. O governo deixa na condição de abandono”, afirmou.
CPI dos Incêndios em Favela
Até o dia 14 de agosto, a Defesa Civil
havia registrado 24 grandes incêndios em favelas de São Paulo em 2012.
Entre 2007 a 2011 aconteceram 262, a maioria com causas desconhecidas.
Inclusive, os incêndios são o tema uma investigação da Comissão de
Inquérito Parlamentar (CPI) Câmara Municipal de São Paulo.
Na matéria “O Fogo contra as favelas”, escrita pelo jornalista Igor Carvalho e publicada na Revista Fórum,
o arquiteto Nabil Bonduki afirma que a possível relação entre os
incêndios em favelas e o mercado imobiliário deveria ser investigada.
“Existe um boom imobiliário em São Paulo, eles buscam
desesperadamente terrenos (…) Obviamente, as favelas são um incômodo
para o entorno. Eu acredito, sim, que os incêndios possam ser
criminosos. Não estou acusando ninguém, mas é uma desconfiança que
mereceria uma investigação.” A blogueira Maria Frô também questionou
essa relação em um post publicado em seu blogue. “O curioso que os
incêndios sempre acontecem em favelas cujo entorno crescem prédios de
alto padrão”, disse.
Borges, da FLM, foi outro que comentou a
relação entre a especulação imobiliária e os incêndios em favelas de
São Paulo. “Esse incêndio da Vila Prudente é um exemplo prático de tudo
que estou dizendo. E, em alguns casos, onde há especulação imobiliária,
você pode ter os incêndios criminosos,, porque a especulação imobiliária
quer expulsar as pessoas do bairro. Aquela região da Vila Prudente
valorizou muito por causa do metrô, shopping center. Então, a favela não
é um atrativo naquela região”, afirmou.
Apesar de todos estes questionamentos
por parte de movimentos sociais, especialistas e da imprensa, a CPI dos
Incêndios em Favelas não saiu do lugar desde que teve início em maio.
Somente as duas primeiras reuniões puderam ser realizadas, mas elas só
trataram de aspectos legais para a instalação da CPI. Todos os outros
encontros tiveram que ser cancelados por falta de quorum.
A Comissão é dominada por partidos que
compõem a base aliada do prefeito Gilberto Kassab. O PT, que teria
direito a duas vagas na CPI, abriu mão deste direito por ter decidido
que não participaria de nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito até
que a CPI do Hospital Sorocabana fosse instalada. Uma das vagas foi
oferecida ao vereador Jamil Murad, do PC do B, que a recusou por já
participar de três CPI’s e ser o líder do seu partido na casa.
A próxima reunião da Comissão está
marcada para 29 de agosto. O prazo de 120 dias para a investigação
termina no dia 9 de setembro. Pelo histórico da CPI, é provável que ela
termine sem sequer ter nomeado seu relator e o vice-presidente.
*sdpresso
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