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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 02, 2013

JK: UMA DAS PENDÊNCIAS DA REPRESSÃO


Revelação de farsa sobre morte de JK põe STF diante de um imperativo moral
Por Fernando Brito

Anotícia de que se tentou subornar o motorista do ônibus que, na versão oficial, teria provocado o acidente que matou, em 1976, o ex-presidente Juscelino Kubitschek - aqui - coloca o Supremo Tribunal Federal diante da obrigação de rever sua malsinada decisão de considerar prescritos os crimes cometidos durante a ditadura.

Os indícios são cada vez mais indesmentíveis de que houve, ali, não um acidente, mas um assassinato.

O argumento de que aqueles fatos são passado, “são história”, já não servem para que deles fique afastada a apuração com fins de responsabilização que afaste o caráter diletante de uma investigação.

Porque Juscelino – como João Goulart – são a própria história, e não há país no mundo que possa se conformar com a obscuridade sobre um assassinato de um Presidente da República.

Não podemos continuar a ter esta história contada por desvãos, metáforas ou livros romanceados como o premonitório “Beijo da Morte”, de Carlos Heitor Cony e Ana Lee, que descreve este complô e assassinato.

A insistir numa visão míope, de que uma anistia possa simplesmente apagar os fatos do passado, o Supremo, em última análise, estará se mantendo como cúmplice de assassinatos premeditados e cruelmente urdidos.

Assassinatos de pessoas, inclusive o de um (ou, quem sabe, dois) Presidente da República.

E assassinato, também, da história brasileira.

E deixando de mostrar aos mais jovens do que é capaz uma ditadura, que a direita vive apresentando como sinônimo de ordem.

Quando é sinônimo de morte. (Fonte: aqui).

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