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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 24, 2014

De onde vieram as práticas religiosas cristãs?

De onde vieram as práticas religiosas cristãs?

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Os santos substituiram o culto de deuses pagãos, satisfazendo o politeísmo original presentes nas mentes simples ou poéticas. Estátuas de Isis e Hórus foram renomeadas passando a se chamar Maria e Jesus, a Lupercalia romana, a festa da purificação de Isis tornou-se a festa da Natividade e as Saturnálias foram substituídas por celebrações de Natal , a Floralia foi substituída por Pentecostes, um antigo festival dos mortos foi substituído pelo Dia de Finados ” e a ressurreição de Átis se transformou na ressurreição de Cristo, altares pagãos foram dedicados aos heróis cristãos; incenso, luzes, flores, procissões, paramentos, hinos, que faziam o prazer das pessoas em cultos antigos foram domesticados e purificados para serem usados em rituais da igreja, e o abate cruel de uma vítima viva foi sublimada por sacrifício espiritual na missa.
Agostinho protestou contra a adoração de santos: “Não vamos tratar os santos como deuses, não queremos imitar os pagãos que adoram os mortos. Não vamos construir a eles templos, nem levantar altares para eles, mas com suas relíquias vamos levantar um altar a um deus ” [...] A igreja, no entanto, sabiamente aceitou o inevitável antropomorfismo da teologia popular e então passou a utilizar e abusar o culto dos mártires e relíquias.”
A igreja denunciou magia, astrologia e adivinhação, mas logo as pessoas e sacerdotes usariam o sinal da cruz como um encantamento mágico para expulsar ou afugentar demônios. Exorcismos foram aplicados sobre o candidato ao batismo , e imersão da pessoa totalmente nua era necessário porque o diabo poderia se esconder em alguma roupa ou ornamento.
Os sonhos da cura uma vez só procurados nos templos de Esculápio podiam agora ser obtidos nos santuários dos Santos Cosme e Damião, em Roma, e em breve estaria disponível em centenas de santuários [...] A alma do homem simples pode ser tocada apenas através dos sentidos e da imaginação, com cerimônias e milagres usando mitos, medo e esperança, e então ele vai rejeitar ou transformar qualquer religião que não lhe dá isso. Era natural que, em meio a guerra e desolação, pobreza e doença, um povo assustado deveria encontrar refúgio e consolo em capelas, igrejas, e regozijar-se em sinos, procissões, festivais e rituais coloridos. Ao ceder a essas necessidades populares, a igreja foi capaz de INCUL-CAR uma nova moralidade. Will Durant, The age of Faith – VI The church and the World (Pag 557-564)
Tradução: Ana Burke

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