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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 18, 2015

AGORA O PAPA CHEGUEVARIZOU

Em discurso, Papa pede criação de Estado Palestino

Pontífice falou ainda sobre combate ao EI e sobre ataques em Paris

Papa discursou nesta segunda-feira e falou sobre diversos temas mundiais
Foto: Osservatore Romano / Reuters
Em discurso ao corpo diplomático do Vaticano nesta segunda-feira, o papa Francisco pediu a retomada das negociações entre Israel e Palestina e a criação de dois Estados. "[Que o Oriente Médio] possa recomeçar as negociações entre as duas partes, com intenção de fazer cessar a violência e a chegar a uma solução que permita tanto ao povo palestino como aos israelenses viverem em paz, com fronteiras claramente definidas e reconhecidas internacionalmente. Assim, a solução da criação dos dois Estados se tornará efetiva", discursou.
Durante a audiência na Santa Sé, o Pontífice voltou a destacar que o mundo vive uma "verdadeira guerra mundial combatida em partes" e que o "Oriente Médio sem cristãos ficará desfigurado e mutilado". Ele ainda lembrou a carta que enviou à região pelo Natal e assegurou que os moradores de lá não saem de suas orações. "Para que todas as comunidades cristãs, que dão um testemunho de fé e de coragem, desenvolvam um papel fundamental como artífices de paz, de reconciliação e de desenvolvimento nas respectivas sociedades a que pertencem", destacou.
Sem citar o nome Estado Islâmico (EI), o líder da Igreja Católica afirmou que é necessário ter uma "resposta unânime" da comunidade internacional. "Pelas agressões injustas, é preciso uma decisão unânime que, no quadro do direito internacional, pare a propagação da violência, restabeleça a concórdia e sare as profundas feridas que os desdobramentos dos conflitos provocaram", disse.
Ele ainda voltou a pedir que "os líderes religiosos, políticos e intelectuais, especialmente muçulmanos, condenem qualquer interpretação fundamentalista e extremista da religião". Destacando o fundamentalismo religioso, Jorge Mario Bergoglio falou que ele, além de "perpetrar horrendos massacres, refuta Deus para um mero protesto ideológico". Ainda no tema terrorismo, o Papa voltou a falar sobre os atentados de Paris na última semana.
Segundo o líder, o ataque "nasceu de uma cultura que rejeita o outro, rompe os laços mais íntimos e verdadeiros com o fim de dissolver e desintegrar toda a sociedade e para gerar violência e morte".
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Guerras locais
No dia em que o Paquistão lembra o primeiro mês da tragédia da escola militar de Peshawar, que matou 141 pessoas - entre as quais 132 crianças e adolescentes, o Pontífice destacou que "desejo renovar as minhas condolências às suas famílias e asseguro as minhas orações por tantos inocentes que perderam a vida".

Já sobre a Ucrânia, Bergoglio afirmou que o país virou um "dramático cenário de confrontos" e pediu que, "através do diálogo, se consolidem os esforços para cessar as hostilidades" e que "as partes envolvidas renovem o espírito através das leis internacionais e encontrem um sincero caminho de confiança recíproca e de reconciliação fraterna para superar a atual crise".
O sucessor de Bento XVI também lembrou os confrontos na Nigéria, dizendo que "as formas de brutalidade" no local fazem vítimas entre as crianças e as pessoas indefesas. Ele lembrou ainda o "trágico fenômeno" dos sequestros e disse que é preciso erradicar o rapto de meninas para serem vendidas como objetos.
O líder da Igreja Católica pediu ainda uma atenção especial aos ataques e guerras que ocorrem por todas as partes do continente africano, como no Congo e no Sudão do Sul. Além de se preocupar com o fim dos conflitos, Bergoglio também lembrou a situação das mulheres nas zonas de guerra.
"Não se pode esquecer que as guerras trazem consigo outro crime horrível, que é o estupro. Isso é uma gravíssima ofensa à dignidade das mulheres, que não são só violentadas na intimidade de seu corpo, mas também na sua alma. Esse é um trauma que dificilmente será esquecido e que traz ainda consequências de caráter social", ressaltou.
Ebola
O Papa discursou também que "entre os leprosos de nosso tempo, estão as vítimas desta nova e tremenda epidemia de ebola". Ele aproveitou para elogiar o empenho dos médicos, enfermeiros, religiosos e voluntários que estão ajudando a confortar e curar os doentes. Porém, renovou seu apelo para que "toda a comunidade internacional aja e forneça uma adequada assistência humanitária às pessoas".

EUA x Cuba
O Pontífice relembrou a volta das conversas entre Cuba e Estados Unidos e disse que esse é um "exemplo" de como o diálogo "pode edificar e construir pontes". Ele ainda saudou positivamente a decisão dos norte-americanos de fechar a prisão de Guantánamo e agradeceu a "generosa disponibilidade de alguns países" em receber os presidiários.

Irã
Bergoglio ainda pediu que o acordo nuclear do Irã seja resolvido "rapidamente" e elogiou os esforços feitos até o momento nessa direção.

Itália
Sobre a grave crise econômica que vive a Itália, Francisco disse que envia um "pensamento especial de esperança" porque no atual clima de "incerteza social, política e econômica, o povo italiano não ceda à falta de vontade e a tentação dos conflitos". Ele ainda pediu que os italianos "redescubram" os valores de atenção recíproca e solidariedade que são base de sua cultura e de convivência civil, "especialmente para os jovens". 

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