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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 11, 2015

estudante carioca evitou que linchamento tivesse consequências mais graves A carioca Mikhaila Gutierrez Copello

Vencedora do Prêmio Direitos Humanos, estudante carioca evitou que linchamento tivesse consequências mais graves
A carioca Mikhaila Gutierrez Copello, de apenas 22 anos, acaba de receber o Prêmio de Direitos Humanos, a mais alta condecoração do governo brasileiro a pessoas e entidades que se destacam na defesa, na promoção e no enfrentamento às violações dos Direitos Humanos em nosso país.
Mikhaila foi agraciada na categoria Enfrentamento à violência, que compreende a atuação relacionada à garantia do direito à segurança cidadã, bem como as ações de enfrentamento à violência institucional, ao crime organizado e às situações de violência e de maus-tratos a grupos sociais específicos.
No dia 7 de maio de 2014, Mikhaila realizava uma entrevista para a pesquisa que realiza como estudante da UFRJ quando presenciou o linchamento de um homem acusado de roubar um celular, intervindo logo em seguida para evitar uma execução pública no bairro da Freguesia, em Jacarepaguá (RJ).
“Eu estava fazendo a entrevista e de repente ouvi um ‘pega ladrão’. Em um primeiro instante eu tive aquele impulso de me proteger, mas segundos depois percebi que estava acontecendo um linchamento a dois, três metros de mim, e eu vi uma atrocidade acontecendo: um homem já esfacelado, levando chutes e pontapés”, relembra.
A reação de Mikhaila foi proteger o acusado, gerando revolta entre os transeuntes. “As pessoas diziam ‘ele mata por menos que um celular’, mas eu revidava que eles também matariam por menos que um celular. Ao mesmo tempo que eu estava nervosa, chorando, aquela situação me dava mais força para argumentar e defender aquele homem”, afirma.
A premiada defende que o ciclo da violência só pode ser quebrado com atitudes em que o ser humano seja protegido, qualquer que seja a situação. “Aquela atitude representa toda uma ideologia que eu fui cercada a minha vida inteira, e isso vem da educação. Eu não esperava ser tão bem vista por esse tipo de atitude tão polarizadora, ou seja, defender a vida de um assaltante, e na verdade eu não estava reconhecendo ele como o grande causador dos nossos problemas, e sim uma vítima também”, diz.

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*MariadaPenhaNeles

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