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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 16, 2015

Ta. OK! Eu decidi ouvir esse papo de meritocracia... 



Mesmo vivendo em ambientes violentos, onde o odor é de carniça e as ruas são pintadas de sangue.

É, eu acordei, cedo... Fui trabalhar, das 6 até as 18, logo em seguida corri pra escola. Tinha que trabalhar, afinal, o sustento da minha própria casa era bancado por esse trampo. Não bastava minha mae ser auxiliar de limpeza e meu pai pedreiro, isso não garantia o pão do dia, eu também tinha que trabalhar. Chegando na escola, correndo, cansada, torcendo pra não chegar atrasada. Ufa, consegui. Montei um grupo de estudos junto com os professores e alunos, esse ano tem Enem e aqui na quebrada todo mundo tem um sonho em comum: ser alguém dentro desse sistema, já que a certeza é que não seremos nada. Queremos tirar nossos pais e nossa familia dessa vida difícil, queremos tirar nossos entes queridos do pesadelo que é não saber se iremos acordar vivos no dia seguinte.

Pois é. Nós estudamos o ano todo, nos esforçamos, assim como diz o mandamento da meritocracia. Me parece que não deu muito certo, foi um ano difícil, mal dormi, mal comi, mal vivi, fingi ter acreditado naquela historia que me contaram e talvez esse tenha sido não só o meu maior medo, mas o maior erro de todos nós.

O sistema atualiza, Lan house cheia, a dor no silêncio ecoa. A maior nota da turma foi 406,6.

Qual é a pegadinha dessa vez? Não nos esforçamos o bastante? Sera que nossos pais não se esforçaram o bastante para que pudessem pagar cursinhos e vestibulares para nós? Será que meus ancestrais não se esforçaram o bastante e por isso foram escravizados? Sera que é por esse motivo que não consigo ser ninguém? Sera que é por esse motivo que nos não conseguimos ser alguem dentro da lógica daquilo que o sistema acredita ser alguém?

Acho que o nosso maior erro foi acreditar na ilusão meritocrática de que o mundo que foi construído por nós, também é nosso...

*Enegrecendo Ideias Anarquistas

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