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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 16, 2015

Do ponto de vista do Euro: mais um prego no caixão.

Euro: mais um prego no caixão

Dia feio para a Zona NEuro. Todos os dias são feios para um amoeda nascida mal e gerida ainda pior, mas este é mesmo negro.

A Suíça decidiu rasgar o tecto do câmbio com o Euro. O que significa isso? Significa que o Franco Suíça já não está atrelado ao Euro. Bom, a questão é um pouco complicada, mas vamos ver.

Pergunta? Porque a Suíça decidiu esta manobra?

Para manter o valor do Franco aos actuais níveis, a Suíça era obrigada a comprar Euro em quantidades muito elevadas, ao ponto que os cofres helvéticos agora estão cheio deles (centenas de biliões). Mas isso significava fazer sair da Suíça muito, mas mesmo muito dinheiro.

Então a Suíça decidiu rasgar o acordo (que tinha um nome: PEG), deixando o câmbio Franco-Euro livre de flutuar. A ideia é que a reforço do Franco face ao Euro (isso é, o Franco fica mais forte) seja compensado pela queda face ao Dólar.

Dito de forma ainda mais simples: a Suíça está farta de fazer negócios só com a Europa, quer uma moeda mais débil face ao Dólar para poder exportar fora do Velho Continente também.

Faz sentido? Sim, todo o sentido. Ficar atrelados ao Euro é como estar no meio dum velório: há um morto, só que neste caso ninguém quer vê-lo e todos continuam a apertar as mãos e trocar prendas (económicas) como se nada fosse.
Bye-bye Euro

Tentamos ler a notícia entre as linhas.

A jogada do Banco Central Suíço é a admissão duma derrota. Ou seja, o Euro é uma moeda muito fraca e, portanto, o risco na construção de enormes activos em Euro para defender a taxa de câmbio é potencialmente maior do que o benefício obtido na manutenção do actual câmbio.

Repito: é uma derrota, não é jogada inteligente. O Banco Central Suíço acreditava que, eventualmente, a economia europeia se estabilizasse e com ele o Euro. Mas a expectativa demonstrou estar errada e, perante os factos, os Helvéticos escolheram o mal menor.

A Suíça desta forma deixa claro que o Euro não é uma moeda de confiança.

Mas há mais: além da forte valorização do Franco, há uma segunda consequência desta decisão. Claramente, o Banco Central Suíço já não irá comprar mais Euros, isso é, não vai mais apoiar as dívidas públicas da Europa através da criação de novos Francos suíço e da compra de moeda e títulos a curto prazo (o que permitia manter o Franco indexado ao Euro).

Na verdade, irá lentamente livrar-se da moeda europeia acumulada nos últimos anos. Faltará assim um forte comprador nos mercados primários e secundários.

Do ponto de vista do Euro: mais um prego no caixão.


Ipse dixit.
*http://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/2015/01/euro-mais-um-prego-no-caixao.html

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