Nossa Idade Média: religiosos não podem ser os juízes do limite da crítica à religião
por Paulo Jonas de Lima Piva
Mesmo com tantos avanços científicos e tecnológicos ainda vivemos num
mundo em que as pessoas acreditam em divindades, livros sagrados,
messias, espíritos, vida após a morte e capetas. Por outro lado, há
muitos que não acreditam. Para administrar tal discrepância, a
tolerância mostrou-se o melhor caminho no mundo secularizado e
pós-teocêntrico. E como parte constituinte do valor da tolerância está o
direito de crítica aos dogmas religiosos - aliás, um grande avanço
civilizacional -, o qual inclui o humor como uma de suas formas.
Criticar dogmas religiosos, dentre eles seus personagens, é bem
diferente de ofender o direito de fé das pessoas. Obviamente é de se
esperar que nos sintamos incomodados de algum modo quando nossos dogmas
são alvejados por críticas muitas vezes duras. Aí o problema é de quem
se ofendeu com as críticas aos dogmas e não de quem critica os dogmas
dessa fé. Pois se a crítica deixar se levar pelas reclamações dos
carolas, pela sensibilidade da paixão dos religiosos, como quer o papa
Francisco, o pensamento crítico simplesmente irá se atrofiar. Portanto, é
fundamental que insistamos: criticar os dogmas religiosos, seja por
meio de argumentos sisudos, seja por meio do humor, é diferente de
insultar o direito de fé dos religiosos. E se estes se sentirem
ofendidos com as críticas sisudas ou sarcásticas aos dogmas da sua
religião, o problema é do religioso que ainda não se preparou
psicologicamente para viver numa sociedade pluralista. O que é
inaceitável é que os religiosos estabeleçam os limites dessa crítica,
como quer fazer o papa, pois são parte diretamente interessada na
questão.
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