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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 23, 2015

Por que Dilma escolheu a Bolívia e rejeitou a Suíça?

É fácil entender por que Dilma rejeitou o “sagrado” Fórum Econômico Mundial nos Alpes suíços para comparecer à posse do presidente reeleito Evo Morales, no altiplano da Bolívia

dilma posse evo morales bolívia
Além de Dilma, a posse de Evo Morales na Bolívia foi prestigiada por outros líderes mundiais e sul-americanos, como Tabaré Vázquez (sucessor de Mujica no Uruguai), Nicolás Maduro e Rafael Correa
Paulo Nogueira, DCM
Uma das tolices que estão sendo propagadas pelos suspeitos de sempre é que Dilma cometeu um desatino ao optar por ir à posse de Evo Morales na Bolívia e não a mais uma edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos.
As críticas derivam de duas coisas. Uma é o preconceito em relação à Bolívia e Evo. Não há nada que se possa fazer a respeito. Augusto Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, chama Evo de “Llama de Franja”, e presume que está sendo espirituoso.
O segundo fator é a ignorância dos críticos em relação ao Fórum Econômico Mundial, que cobri duas vezes, já quando perdera o brilho.
O WEF, das iniciais em inglês, é agora uma espécie de Ilha de Caras da plutocracia global.
Teve num passado distante, quando a globalização era novidade, alguma relevância.
Nos dias de ouro, até estrelas do cinema como Angelina Jolie iam a Davos, nos Alpes suíços.
Não mais.
Agora, os organizadores têm que se contentar com subcelebridades como Paulo Coelho – sempre presente com tudo na faixa – para tentar promover o encontro.
O WEF, ao contrário do que muitos pensam, é um negócio privado e seu maior objetivo, longe de resolver os problemas do mundo, é proporcionar holofotes a seu dono, o alemão Klaus Schwab.
Como a Ilha de Caras vivia do prestígio de quem ia a ela, o WEF depende também dos políticos e empresários que se deslocam para Davos.
Tente encontrar Obama lá, por exemplo. Obama jamais foi ao WEF, e nenhum dos seus críticos encrencou com isso. Nem Bush compareceu uma única vez a Davos.
Clinton foi, em 2000. Mas estava se despedindo da presidência, e o WEF era um excelente lugar para arrumar palestras de 150 000 dólares ao redor do mundo.
Os líderes empresariais que vão ao WEF estão lá não por seu notório saber e charme inexcedível, mas porque pertencem a empresas patrocinadoras.
Você tem uma empresa e quer pontificar em Davos? Basta procurar o tesoureiro do WEF e verificar o preço de uma cota de patrocínio.
Hoje, 2015, Davos é, sobretudo, uma boca livre. Joaquim Levy provavelmente aproveitará os dois ou três dias lá para relaxar na paisagem deslumbrante de Davos.
É bom que ele relaxe mesmo porque, ao voltar, terá um trabalho duro pela frente.
Quanto a Dilma, fez a opção certa. Em vez de servir de escada para Schwab, foi para um compromisso em que teria a companhia de pessoas de quem gosta – e se livrou dos enfadonhos engravatados do WEC.
O resto, bem, o resto são choramingos de quem não tem a menor ideia do que seja Davos.
*PragmatismoPolitico

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