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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 11, 2015

Gorbachev alerta que conflito na Ucrânia pode levar a guerra nuclear

Em entrevista à revista alemã, ex-líder soviético diz que tentativas ocidentais de enfraquecer a Rússia foram "estúpidas e perigosas". "Nós não iremos sobreviver se alguém perder a cabeça na atual tensão", enfatiza.
Em uma entrevista à revista semanal alemã Der Spiegel, o ex-líder soviético de 83 anos de idade, Mikhail Gorbachev, disse que a crise na Ucrânia pode findar em uma guerra de grande escala na Europa ou até mesmo num conflito nuclear. "Nós não iremos sobreviver se alguém perder a cabeça na atual tensão", enfatizou Gorbachev.
O vencedor do Prêmio Nobel da Paz descreveu a "perda de confiança" entre a Rússia e o Ocidente como "catastrófica", e disse que os laços precisam ser "descongelados". Gorbachev acusou o Ocidente e a Otan de destruir a estrutura de segurança europeia expandindo a sua aliança. "Nenhum chefe do Kremlin pode ignorar uma coisa dessas", analisou, acrescentando que os Estados Unidos estavam "infelizmente" começando a estabelecer um "mega-império".
O homem visto como peça-chave na reunificação alemã, em 1990, também acusou a Alemanha de interferir na crise da Ucrânia. "A nova Alemanha quer suas mãos em todas as 'tortas'. Parece haver uma grande quantidade de pessoas que querem estar envolvidas em uma nova divisão da Europa", argumentou.
"A Alemanha já tentou expandir sua influência de poder através do Oriente, na Segunda Guerra Mundial. Será que ela precisa realmente de outra lição?", indagou Gorbachev. Ele afirmou que tentativas ocidentais de enfraquecer o presidente russo Vladimir Putin e de desestabilizar a Rússia foram "bastante estúpidas e extremamente perigosas".
Gorbachev defendeu a anexação russa da península da Crimeia, no ano passado, mas criticou o estilo autoritário de liderança do presidente russo. Ele disse que a Rússia precisava de eleições livres e "a participação do povo em eleições livres".
"Simplesmente é inaceitável quando alguém como o blogueiro e político Alexei Navalny está sob prisão domiciliar por expressar suas opiniões contra a corrupção", salientou o ex-líder soviético ao magazine alemão.
Advertências recentes
Em meses recentes, Gorbachev alertou diversas vezes sobre uma guerra nuclear, como, por exemplo, em um artigo do diário russo Rossiyskaya Gazeta, publicado em 11 de dezembro. "A situação na Europa e no mundo é extremamente alarmante. O resultado dos acontecimentos que ocorreram nos últimos meses, é uma perda catastrófica de confiança em relações internacionais." Ele pediu que Rússia e os EUA, assim como Rússia e a União Europeia, mantivessem as conversações "sem condições prévias" e sem medo de "perder a cara".
"Temos que pensar no futuro", disse o ex-líder.
Na próxima segunda-feira (12/01), os ministros das Relações Exteriores de Alemanha, França, Rússia e Ucrânia têm encontro marcado em Berlim para iniciar mais uma tentativa de encerrar o impasse no conflito ucraniano. Os ministros devem discutir a possibilidade de uma cúpula de líderes dos quatro países no Cazaquistão, em 15 de janeiro, seguindo a sugestão do governo de Kiev.
PV/dpa/rtr

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