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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, janeiro 12, 2015


pcofNão ao obscurantismo e à xenofobia. Não à “união nacional” com a reação. Sim à solidariedade e à fraternidade.
O assassinato de 12 pessoas, entre elas os principais cartunistas e jornalistas de Charlie Hebdo, suscita uma grande emoção e uma grande raiva em nosso povo. É a liberdade de expressão, de crítica, o direito ao escárnio, que os autores desse crime vil quiseram assassinar. Foi para dizer “não” – pois não cederemos e não nos deixaremos intimidar – que dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas, na mesma noite do atentado.
A outra mensagem dessas manifestações é a recusa e a condenação a todo amálgama que alimenta a islamofobia. Há semanas que “intelectuais” despejam seu ódio contra o islã diante dos microfones e estúdios de televisão. E hoje, lugares frequentados por muçulmanos são alvo de ataques. Como dissemos em nosso comunicado de 07 de janeiro, “é necessário parar a instrumentalização da religião, qualquer que seja, para dividir e questionar os valores de fraternidade e de tolerância”. Por isso, nós defendemos a laicidade, o direito de cada um de crer e de não crer, o direito de criticar qualquer religião, de satirizá-la.
O presidente da República reiterou com veemência que a França estava em guerra contra o terrorismo. Esse discurso lembra o de Bush, após o 11 de setembro. Vários veículos de comunicação, responsáveis políticos, retomam essa comparação e conclamam, com ele, à “união nacional”.
Nós não desejamos essa “união nacional”
É verdade que Hollande e seu governo levaram adiante verdadeiras guerras, em vários frentes: no Mali, no Sahel e, em coalizão, no Iraque. Essas guerras não apenas são fadadas ao fracasso – basta ver a situação no Iraque e no Afeganistão –, mas alimentam os grupos jihadistas. Consequentemente, nosso partido, e outros, sempre denunciaram essa política de guerra, que traz consigo alianças com forças reacionárias e que se insere na visão perigosa do “choque de civilizações”. Não desejamos a unidade nacional com a direita. Uma direita que acha normal que essa unidade se estenda à Frente Nacional (FN), partido de extrema-direita.
No contexto atual, não é de “unidade nacional” que nós precisamos, mas nos unir no combate contra a política de miséria e de guerra, pela fraternidade e solidariedade dos povos. A unidade pela qual nós lutamos é a unidade do povo, da classe operária, em torno de seus interesses e dos povos. É a unidade no combate pelo progresso social, pela democracia.
Paris, 8 de janeiro de 2015.
Partido Comunista dos Trabalhadores da França
*Averdade

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