A dor da gente não sai no jornal
Fernando Brito
Tive muita vergonha de minha profissão, hoje, quando vi a campanha da ONG Teto, voltada para habitação popular.
Ela é uma bofetada no que se tornou a máquina de comunicação meste país.
“O problema não é o que vira notícia, mas o que deixa de ser”
Não é assim, é pior que isso.
Claro que sempre houve, aqui e em toda parte, o chamado “jornalismo de entretenimento”.
Sou velho o suficiente para lembrar da “Revista do Rádio”, das fotonovelas.
Mas é impressionante o nível de empobrecimento mental que mídia brasileira se esforça – sim, é um esforço ser cínico num país como o Brasil! – em impor ao nosso povo.
Os modelos de “virtude”, os “desejos”, o mundo imbecil da futilidade tornaram-se uma avalanche monstruosa sobre uma população carente que não tem, de outro lado, quem verbalize, senão por oportunismo político, os sofrimentos do povo brasileiro.
A classe média – inclusive a que recém-ascendeu a essa condição – perdeu quase todos os contrapontos políticos e ideológicos que faziam de parte dela uma aliada do nosso povão e, do Brasil, um projeto de país.
Quem se aventura – e são poucos – a dizer que não haverá país sem povo é “sujo” e mandado “ir pra Cuba”.
Aliás, com a ajuda do embrião da estupidez que nos chamava de “populista”.
Quem despreza o Estado, ama o “mercado”.
O “mercado” é a salvação e é por ele e só por ele que virá a perfeição do mundo.
O Estado é a danação corrupta, ineficiente e medíocre.
Os jornais e os jornalistas se tornaram arautos deste futuro desejável, onde as “celebridades” se tornam o modelo de uma existência pródiga e vazia.
Nulidades como as Sheherazades e Joyces se tornam, com seus cabelos louros e lisos, as opiniões nacionais.
E a mídia, “livre”, vomita preconceito e ódio contra os pobres, estes “vagabundos”.
A “liberdade de imprensa” é plena: todos tem o direito e o dever de pensar o mesmo.
Os pobres, afinal, nunca foram notícia, não deixaram, portanto, de sê-lo.
O problema é aquilo que se tornou notícia, a única notícia.
*Tijolaço
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