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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Vaticano impediu Igreja da Irlanda de denunciar pedofilia




Uma carta do Vaticano de 1997 recém-revelada pedia para bispos irlandeses não reportarem à polícia todos os casos de suposto abuso infantil. A divulgação da carta pode levar à abertura de mais processos contra a Igreja Católica em todo o mundo, que nega qualquer envolvimento com acobertamento dos casos.
ida pela emissora irlandesa RTE e fornecida para a Associated Press, documenta a rejeição do Vaticano de uma iniciativa da Igreja irlandesa de começar a ajudar a polícia a identificar padres pedófilos.
A mensagem da carta debilita as persistentes afirmações do Vaticano de que a Igreja nunca instruiu bispos a reter evidência ou suspeita de crimes da polícia. Ela enfatiza o direito da Igreja de lidar com todas as alegações de abuso infantil e determinar punições, ao invés de delegar esse poder às autoridades civis.
Para ativistas, a carta de 1997 demonstra de uma vez por todas que a proteção de padres pedófilos da investigação criminal não é apenas sancionada pelos líderes no Vaticano, mas ordenada por eles.
Um argumento fundamental utilizado pelo Vaticano em defesa de dezenas de processos judiciais sobre abuso sexual clerical nos EUA é que eles não tiveram nenhum papel na ordenação de autoridades da Igreja local de eliminação de provas dos crimes.
Em sua carta pastoral de 2010 ao povo irlandês, o Papa Bento 16 não condenou bispos irlandeses por não terem respeitado a lei canônica e não ofereceu nenhuma menção explícita dos esforços de proteção às crianças da Irlanda pela Igreja da Irlanda ou do Estado.
Colm O''Gorman, diretor da divisão irlandesa da Anistia Internacional, abusado várias vezes por um padre irlandês quando era coroinha e esteve entre as primeiras vítimas a falar sobre o assunto, em meados da década de 1990, disse que há evidências de que alguns bispos irlandeses continuaram a seguir as instruções do Vaticano de 1997 e reteram relatos de crimes contra crianças até 2008.
Segunda a carta, a Congregação para o Clero estabeleceria as políticas mundiais para a proteção da infância "no momento adequado".
O Vaticano não aceitou formalmente nenhum dos três principais documentos da Igreja irlandesa sobre proteção de menores desde 1996. Os três enfatizam a denúncia obrigatória de supostas violações.
*Nassif

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