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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 09, 2011

Quem não é arrogante, faz consenso

O Globo noticia que o Ministro da Defesa, Celso Amorim, teria recebido “carta branca” dos comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica” para negociar no Congresso a aprovação da Comissão da Verdade, que deve buscar informações sobre pessoas desaparecidas na ditadura militar.
Embora a expressão seja imprópria, porque ninguém quer excluir os militares de qualquer discussão, é um sinal de que era pura intriga a tal história de que Amorim tinha dificuldades, quase uma sublevação, com os comandos militares. A serenidade com que tratam este tema espinhoso é um exemplo de que isso está longe de existir.
E é totalmente pueril a discussão de que a Comissão da Verdade implica diretamente em qualquer apreciação judicialmente punitiva ou mesmo persecutória sobre os monstruosos eventos ocorridos na noite sombria da ditadura. Essa atribuição não é dela ou do Governo, mas do Judiciário e do Ministério Público.
Vivemos num Estado de Direito, onde respeitam-se as decisões judiciais e o direito de delas discordar. Nossa Corte Constitucional examinou o assunto em tese e teve uma decisão, na opinião de muitos, errônea. Como é próprio da democracia, ela pode, diante de fatos concretos, rever sua posição. Volta e meia, aliás, os tribunais superiores fazem isso.
A Comissão da Verdade, como o nome bem diz, a verdade busca. Diante dela, e só diante dela, se pode ter paz e, igualmente, se pode decidir com sentimento de justiça o que fazer diante dos fatos revelados.
Este é o consenso, o alvo comum que deve superar todas as divergências de opinião: conhecer a verdade.
E  então, diante dela, discutir – na Justiça, outra vez,  inclusive, frente a fatos concretos – o que fazer.
*Tijolaço

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