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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 17, 2012

Com discurso forte, Erundina sacode eleição

Marco Damiani Brasil 247
Com a ex-prefeita Luiza Erundina não tem meio termo. Honesta, ela mora no mesmo endereço, em Mirandópolis, bairro de classe média média paulistana, mesmo depois de ter passado pelo cargo que fabrica prefeitos chefes partidários, assessores milionários e desorganização urbana. Em sua gestão (1989-1993), posterior à de Paulo Maluf, ampliou de 400 para 1,4 mil o número de prestadores de serviço e fornecedores da Prefeitura, moralizando licitações e normalizando contratos, multiplicou por cinco o acesso à rede pública de ensino e promoveu um amplo recapeamento de ruas lembrado até hoje por milhões de motoristas. Do ponto de vista ideológico, ela não esconde ser de esquerda. Em seu primeiro pronunciamento, usou a expressão "luta de classes", eriçando pelos ao centro e à direita.
Escolhida vice Fernando Haddad, do PT, ela que no passado foi rechaçada por seu próprio partido, agora é a esperança da virada. "Vou procurar a senador Marta Suplicy para que ela entre na campanha", disse a ex-prefeita, que neste sábado 16 já se reuniu com antigos colaboradores das áreas de educação, saúde e assistência social para dar dinâmica à campanha – até aqui sem capacidade de gerar fatos dignos de nota.
Independentemente das pesquisas de opinião, já se sabe que Erundina chacoalhou a eleição paulistana. Com ela, ou o PT se empolga, pela saudades e pelas injustiças políticas cometidas contra ela, e finalmente faz o ex-ministro Haddad subir alguns degraus nas preferências do eleitorado, ou promove uma radicalização ao contrário. Suas posições políticas promovem, sem subterfúgios, uma franca divisão política entre petistas e tucanos – incomparavelmente mais forte que a contradição pela presença do ex-prefeito Paulo Maluf entre os apoiadores da chapa, movido pela doação de um cargo no governo federal. Com Erundina, pode aparecer com mais força contra Haddad e o PT o voto do medo, daqueles que têm hojeriza pelo discurso político canhoto como o defendido por ela. Por outro lado, a julgar-se pelo amadurecimento da sociedade paulistano, pode representar o fator da vitória.

*esquerdopata

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