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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, junho 21, 2012

Limpeza social: Violência contra moradores de rua deixa saldo de um assassinato a cada dois dias




De fevereiro de 2011 a maio de 2012, 195 casos de homicídios foram registrados

A cada dois dias, um morador em situação de rua é assassinado no Brasil. De fevereiro de 2011 a maio de 2012, foram registrados 195 casos de homicídios contra moradores de rua em todo o país. Os dados são do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH).
Os números podem ser ainda maiores, pois as notificações de crimes contra os moradores de rua e o levantamento dessa informação são falhos.
O coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), Samuel Rodrigues, explica o que gera esse quadro de violência. “Como o número de pessoas vivendo nas ruas têm crescido por omissão do Estado e por ausência de políticas públicas voltadas para a população em geral, há uma repressão, uma higienização que vem calcada em uma discriminação muito grande por parte da sociedade”, afirma.
Rodrigues acredita que a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no país tende a agravar a política de limpeza social dos centros urbanos. Ele também comenta as formas de violação de direitos a que essa população é submetida cotidianamente. “O simples fato de estar na rua já é uma violência, uma violação de direitos. Por exemplo, nós somos proibidos de entrar em espaços públicos, nós temos dificuldades de acessar os serviços básicos, como saúde – por conta da [falta de] documentação – e a própria educação. Enfim, há uma discriminação social muito forte, como se nós fossemos os culpados por estar nessa situação”, alega.
Em 2009, entrou em vigor a Política Nacional para População em Situação de Rua, com o objetivo de garantir o acesso à saúde, educação, trabalho, moradia, entre outros direitos. O MNPR, no entanto, alega que sua implantação ainda não ocorreu de fato.
*Mariadapenhaneles

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