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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 02, 2012

Presidente do Uruguai nunca se mudou para mansão, que poderá ser abrigo no inverno
 
Ao ser eleito, o presidente do Uruguai, José Mujica, disse que não iria se mudar para o palácio presidencial e cumpriu sua promessa. Agora, ele parece ter encontrado uma outra utilidade para a Casa Suárez y Reyes, em Montevidéu. Ele ofereceu o palacete no bairro do Prado como alternativa para abrigar pessoas que vivem nas ruas, principalmente durante o inverno.

José Mujica
Não seria todo o palácio, mas algumas de suas instalações, o que mesmo assim não deixou de surpreender os funcionários do Ministério de Desenvolvimento Social, responsável pelo assunto.
De acordo com a imprensa uruguaia, a utilização seria possível caso os abrigos não sejam suficientes. E a mansão por pouco não recebeu sua primeira hóspede no último dia 24: uma mulher e seu filho, mas o ministério acabou encontrando vaga num abrigo para eles na última hora.
O inverno uruguaio é rigoroso. E no ano passado, a morte de cinco pessoas por hipotermia gerou uma crise que culminou com a destituição da ministra de Desenvolvimento Social, Ana Vignoli. Por isso, mesmo antes de o inverno chegar oficialmente este ano, já começaram as remoções de sem-tetos para os abrigos.
Mujica mora na chácara de Rincón del Cerro, na zona rural de Montevidéu, a mesma na qual vivia antes da eleição presidencial. A Casa de Suárez y Reyes era o local em que costumavam viver os presidentes uruguaios, mas começou a ser desprezada com a ascensão da esquerda. Antecessor de Mujica, Tabaré Vázquez também não quis se mudar para ela. Hoje é usada para reuniões com governantes estrangeiros ou do Conselho de Ministros.
O palácio é uma obra do arquiteto Juan María Aubriot. Conta com 42 funcionários, tem três andares e é visitada pela população no Dia do Patrimônio. Agora poderá ter novos moradores. Pelo menos, durante o inverno.
*Turquinho

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