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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 13, 2012

Promotores querem condenação de Alckmin por ação policial na 'cracolândia'


Homem é preso durante operação realizada pela
Polícia Militar  - Foto: Nelson Antoine/Folhapress
O Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE) apresentou nesta terça-feira (12) ação civil pública contra o governo do estado de São Paulo por causa da ação policial realizada no bairro da Luz, no centro da capital paulista, na região também conhecida como “cracolândia”. A intenção é obter a condenação do Estado por dano moral coletivo em favor dos dependentes químicos e da sociedade devido ao que consideram um "fracasso total".
Na ação, o MPE pede que o governo pague indenização de R$ 40 milhões e a proibição por liminar das "procissões do crack", em referência à ação de policiais militares que obrigam dependentes químicos a se movimentarem sem destino na região. De acordo com os promotores, as procissões só causam humilhação, sem solucionar o problema. Eles opinaram que a indenização servirá para construir e firmar os direitos humanos. Cópia do processo também será enviada à Procuradoria Geral de Justiça que pode decidir apurar, inclusive, a responsabilidade do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na ação.
Os promotores de Habitação e Urbanismo, de Infância e Juventude, de Saúde Pública e de Direitos Humanos concluíram a apuração iniciada em janeiro, quando a chamada Operação Sufoco, conduzida em parceria pelo governo estadual e pela prefeitura, deteve dezenas de moradores de rua e de dependentes químicos da região, que o prefeito Gilberto Kassab (PSD) pretende vender à iniciativa privada para dar lugar à Nova Luz.
Inútil
A conclusão do inquérito civil reforçou pontos que haviam sido citados em janeiro. Na visão dos promotores Maurício Ribeiro Lopes, Luciana Bergamo Tchorbadjian, Arthur Pinto Filho e Eduardo Ferreira Valério, a operação policial apenas serviu para promover ações violentas, com graves violações de direitos humanos.
Além disso, a operação se mostrou inútil para quebrar a logística do tráfico, apresentada como o argumento central para a atuação, e ampliou a atividade de traficantes em outras ruas ao simplesmente espalhar o problema. A apuração concluiu também que a população não se sente mais segura para circular pela região, outro índice de fracasso do trabalho, e os dependentes químicos não tiveram acesso a tratamento médico eficaz.
A atuação do governo do estado também criou dificuldades para atuação de agentes sociais e sanitários, devido à quebra de vínculo de confiança entre os agentes e os dependentes químicos. Segundo os promotores, a operação também violou o princípio constitucional da eficiência da administração pública e despendeu "vultosa importância de recursos públicos".
Questionado de onde partiram as ordens para a operação Sufoco, Valério citou a realização de reuniões no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado. Mas, conforme o promotor, não foi possível saber de onde partiu o comando.
*Mariadapenhaneles

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