Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, abril 18, 2013

Joaquim Barbosa é o nosso Tatcher



Do Diário do Centro do Mundo - 18 de abril de 2013
 



Raras vezes alguém atraiu tanta raiva como JB com sua continuada inclemência.

117395

Nosso Thatcher


Paulo Nogueira
Saulo Jagger, meu amigo, me fez uma pergunta: quem é nosso Thatcher? Ele ficara impressionado com a alegria irreprimível que se espalhara pelo Reino Unido com a notícia da morte de Margaret Thatcher.
Na amostra mais formidável deste ódio, as pessoas levaram uma música velhíssima do Mágico de Oz ao topo da parada de sucessos ao comprá-la obsessivamente: Ding Dong! The Witch is Dead.
Não soube o que responder na hora. A resposta mais óbvia não era a melhor: Serra. As malvadezas de Serra, como o célebre atentado da bolinha de papel, não são bastantes para credendiá-lo a um ódio nacional tão forte como o dedicado pelos britânicos a Thatcher. Até porque ele não teve poder suficiente para causar estragos.
Mas agora ficou claro para mim quem é nosso Thatcher: é Joaquim Barbosa.
Muitas garrafas de uísque ou de cachaça haverão de ser abertas para comemorar a notícia de sua morte, por mais anos se passem depois que ele saia dos holofotes. No caso de Thatcher, foram cerca de 25 anos.
O que me trouxe o nome de JB à mente para a pergunta de Saulo foi o gesto de abjeta mesquinharia dele de negar mais prazo de recursos aos réus do mensalão.
Ora, a cada dia que passa, crescem as dúvidas em relação ao caso. E estamos falando em penas de vários anos de cadeia.
Mesmo juízes do Supremo que condenaram os réus admitiram que se deve dar mais prazo para os recursos.
Mas Barbosa não: permaneceu agarrado a sua monumental falta de grandeza.
A quem ele agrada assim? À justiça? Talvez não, tantas são as dúvidas em relação ao julgamento.
À Globo?
Com certeza. Mas sabemos todos quais são os reais interesses da Globo: basta olhar para a lista de bilionários da revista Forbes.
Tenho para mim que Barbosa imagina que a bajulação que recebe da Globo, ou da Veja, é suficiente para garantir um bom lugar na posteridade.
Mas é uma ilusão.
Murdoch louvou Thatcher em todos os momentos: em sua chegada ao poder, durante os dias de primeira ministra e na vida pós-Downing Street.
Mas não foi Murdoch que prevaleceu no julgamento popular da era Thatcher. A condenação veio da voz rouca das ruas, que empresa de mídia nenhuma controla, por maior que seja – e o império de Murdoch faz o dos Marinhos parecer a Gazeta de Pinheiros.
Barbosa é a negação do brasileiro tolerante, cordial, simpático, magnânimo. E exerce o poder que lhe caiu no colo num acaso lastimável com uma severidade e uma impiedade que parecem muito acima de sua competência como magistrado.
É o nosso Thatcher.


Paulo Nogueira. Jornalista Paulo Nogueira baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo. 
*Saraiva

Nenhum comentário:

Postar um comentário