Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, dezembro 20, 2013

A morte do braço financeiro de Kassab no auge do escândalo da máfia dos fiscais

Jordão (à esquerda)
 


Rubens Jordão morreu no último dia 22 de novembro, aos 58 anos. Cometeu suicídio. Você, provavelmente, não soube disso e, talvez, não tenha ideia de quem se trata. Mas a notícia é importante porque Jordão era uma figura política importante — nos bastidores.

Jordão era presidente em exercício do Diretório do PSD em São Paulo e um dos principais articuladores do chamado Espaço Democrático, a fundação que o partido criou para “estudos” e “formação política”.
Era mais do que isso: o coordenador financeiro de Gilberto Kassab. Sua morte ocorreu no auge do escândalo da fraude dos fiscais do ISS. Naquele dia 22, por exemplo, os jornais noticiaram que uma testemunha ouvida pelo Ministério Público havia dito que um delegado vendia informações para a quadrilha. Três dias antes, a prefeitura afastara o subprefeito interino de Pinheiros, Antonino Grasso, ex-secretário de Kassab.

Jordão era engenheiro e empresário. Numa nota publicada no site da legenda, Kassab declarou: “Perdemos um grande amigo e um colaborador inestimável”.
Fez parte do grupo de ex-colegas da Poli que acompanhou a carreira do ex-prefeito de São Paulo. A turma de 12 amigos se encontrava semanalmente para tomar um chope no centro da cidade. Leal, tinha um perfil mais baixo. Foi, nominalmente, secretário adjunto de Esportes (o titular era Walter Feldman). Mas, de acordo com fontes do PSD, era o homem com quem os aliados do prefeito tratavam quando precisavam de recursos.
Rubens Jordão foi um dos principais organizadores da campanha vitoriosa de Kassab para a prefeitura em 2008. Pela competência, Kassab o nomeou presidente do comitê financeiro de José Serra em 2012.

O falecimento de Jordão, no momento mais agudo do tiroteio em torno de um esquema que teria custado aos cofres públicos 500 milhões de reais, foi tratado de maneira discreta e silenciosa — como ele. Na página do PSD, Guilherme Afif Domingos deixou o seguinte recado: “Ele tinha papel essencial nos trabalhos desenvolvidos pelo Espaço Democrático, sempre com muito entusiasmo e dedicação, e vai fazer muita falta”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário