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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Todo apoio a Mujica mas… o que dizer da Argentina?

 

 do Um Sem-Mídia
O que dizer da Argentina?
Daniel Oiticica
Todo apoio a Mujica e sua corajosa ideia de deixar de enxugar gelo para encarar o problema do narcotráfico sob outra perspectiva. Mas o prêmio dos liberais da The Economist para o Uruguai me fez pensar que de fato a grande mídia internacional mantém a Argentina invisibilizada, como muito bem reconheceu certa vez o Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman.
Em tempos de retrospectivas e prêmios aos melhores e maiores, nao custa nada relembrar que a Argentina tem dado passos gigantescos no que diz respeito a leis de vanguarda, que ampliam direitos ou simplesmente rompem com certa ordem estabalecida, que desagrada ao establishment e aos donos da mídia.
Vejamos algumas:
Identidade de gênero – qualquer pessoa, independentemente da composição da genitália que carrega tem direito a ser reconhecida perante a lei como quiser. Maria pode ser João e Pedrinho pode ser Joana. Basta comparecer a um cartório e solicitar a troca de documento, grátis e simples.
Matrimônio igualitário – Homem com homem, mulher com mulher dava lobisomem e jacaré, mas aqui na Argentina agora pode dar casamento de verdade. Pedro se casa legalmente com Fabio e tem os mesmos direitos de Marcelo, que escolheu se casar com Ana Paula.
Petroleira estatal – Durante quase duas décadas, a YPF, companhia de petróleo argentina, esteve controlada pelo grupo Repsol, que pagava dividendos milionários a seus acionistas, mas investia quase nada no país, além de remeter fortunas à matriz. Trocando em miúdos, praticava uma política de esvaziamento da YPF às custas de desabastecimentos. A lei de reestatizaçao da YPF permitiu que a Argentina recuperasse o controle de parte importante de seus recursos naturais.
Aposentadoria para todos (todos mesmo) – Um dia a galinha dos ovos de ouro de alguns banqueiros deixou de botar ovos para se dedicar aos idosos. Com uma lei, o governo argentino estatizou os fundos de pensao. A medida resultou em pouco tempo em um aumento em termos reais da renda média dos aposentados e incluiu no sistema todos os idosos maiores de 65 anos, independentemente de terem ou nao realizado contribuiçoes ao sistema previdenciário.
Lei de Serviços de Comunicaçao Audiovisual – Aqui talvez esteja a explicaçao de tudo. Pela primeira vez na regiao, uma lei democraticamente debatida e aprovada define o que verdadeiramente significa liberdade de expressao. Voz pra todo mundo, ou seja, um espectro radiofônico bem dividido. A The Economist – e um punhado de empresários que controlam o mercado mundial das comunicaçoes – não gosta desta lei, nem da Argentina.
Salve, salve, Mujica! ;)
*GilsonSampaio

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