Boa hora para mudar o Supremo
Não funciona bem um tribunal em que juízes dormem de toga e um
julgamento tem de ser apressado ou retardado porque um ministro faz 70
anos
Hélio Doyle
O julgamento do chamado "mensalão", certamente o que nos últimos tempos mais atraiu atenções para o Supremo Tribunal Federal,
é um bom motivo para o país sair da letargia em relação a alguns temas
que estão sendo, indiretamente, colocados em pauta. O julgamento faria
bem ao Brasil se fosse além do julgamento em si e mudasse algumas
práticas nocivas.
O primeiro tema que poderia ser discutido, e mais óbvio, é o sistema
eleitoral brasileiro e suas repercussões no sistema político. O caixa
dois em campanhas eleitorais e o financiamento
ilegítimo a políticos e a partidos é o cerne da questão em exame no
Supremo. Na verdade, a prática é usual há anos, e exercida por 95% dos
políticos brasileiros, no mínimo. As eleições estão cada vez mais caras e
assim a política vai se tornando atividade para milionários ou para
pessoas que se tornam reféns de seus financiadores de campanha, no caixa
um ou no caixa dois.
O julgamento é um bom motivo para mudar, também, o sistema judiciário
brasileiro, e particularmente o antiquado Supremo Tribunal Federal.
Diversas questões poderiam ser colocadas para discussão:
1 – Os ministros devem mesmo ser nomeados pelo presidente da República
depois de submetidos a um sabatina formal e vazia no Senado?
2 – Os ministros devem ser vitalícios ou deveriam ter um mandato?
3 – É preciso mesmo que os ministros se aposentem compulsoriamente aos 70 anos?
4 – As atribuições do tribunal não poderiam ser reduzidas, com menos processos e menos julgamentos?
5 – O ritual formalístico-burocrático é mesmo necessário, não poderia
ser simplificado? Não é geralmente apenas perda de tempo e causa gastos
desnecessários?
Há muito mais aspectos no funcionamento do Supremo que poderiam ser
discutidos. Só não venham dizer que está tudo bem do jeito que é. Não
pode estar bem um tribunal em que:
- Um processo como esse demora sete anos para ser julgado (e há processos esperando há mais de 20 anos).
- Ministros usando ridículas togas dormem em suas cadeiras enquanto estão falando advogados que também usam ridículas togas.
- Uma ministra deixa o julgamento pela metade porque preside outro tribunal e isso é considerado normal pelos demais ministros.
- Um julgamento importante tem de ser apressado para que um ministro que
está fazendo 70 anos tenha tempo de votar. Ou retardado para que ele
não vote, dependendo do ponto de vista. Com 70 anos e duas semanas de
vida o ministro estará velho demais para decidir.
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