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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, agosto 10, 2012

Não leia no tablóide corrupto Folha de São Paulo porque lá só há interesse pelo Mensalão

OPERAÇÃO MONTE CARLO
Delta enviou R$ 85 mi a paraíso fiscal do Caribe Dados em poder da CPI revelam que construtora fez repasses milionários. Cachoeira, ex-mulher do bicheiro e Demóstenes também realizaram transferências

JOÃO VALADARES
GABRIEL MASCARENHAS



CPI investiga peculiaridade: Cachoeira tinha 49% de empresa da Coreia do Norte que explorava loteria gaúcha (Bruno Peres/CB/D.A Press - 1/8/12)
CPI investiga peculiaridade: Cachoeira tinha 49% de empresa da Coreia do Norte que explorava loteria gaúcha

Andréa, ex-mulher do bicheiro, prestou depoimento na quarta (Monique Renne/CB/D.A Press - 8/8/12)
Andréa, ex-mulher do bicheiro, prestou depoimento na quarta
Documentos sigilosos, já em poder da CPI do Cachoeira, apontam que a construtora Delta, pivô do escândalo, transferiu, apenas no ano passado, R$ 85,34 milhões para contas nas Ilhas Cayman, famoso paraíso fiscal no Caribe, ao sul de Cuba. Os dados apontam três grandes remessas. O primeiro repasse ocorreu em 28 de março do ano passado. A empreiteira enviou R$ 40 milhões para uma conta do Banco Safra. Em 23 de dezembro de 2011, foram realizadas duas operações. A primeira, no valor de R$ 44,73 milhões e a segunda, de R$ 609 mil. No relatório, as somas estão contabilizadas em dólar e foram convertidas em real segundo a cotação de ontem divulgada pelo Banco Central.

Os dados revelam ainda vultosas quantias de dinheiro remetidas pela quadrilha comandada por pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a instituições bancárias no exterior. Só o contraventor enviou mais de R$ 1,5 milhão para diferentes contas bancárias. Nesses casos, o relatório não informa, porém, em qual país cada uma delas está localizada nem para quê o montante foi usado.

Preso durante a Operação Monte Carlo, assim como o contraventor, o ex-superintendente da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu mandou cerca de R$ R$ 130 mil para fora do país. Das contas da ex-mulher de Cachoeira, Andréa Aprigio de Souza, que depôs na CPI esta semana, saíram R$ 840 mil. No mesmo documento, constam também as transações internacionais do ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), cujas remessas para fora do Brasil somaram mais de R$ 250 mil, de acordo com o Banco Central.

Além das transferências milionárias realizadas pela Delta, o Banco Central detectou outras movimentações de menor porte. Em 30 de agosto de 2010, houve movimentação financeira para os EUA no valor de R$ 208 mil. Existem repasses na casa dos R$ 100 mil para Espanha, Alemanha, Malásia e Cingapura. O trabalho dos integrantes da CPI, agora, é cruzar as informações com as datas em que as remessas foram feitas. No relatório, há também a movimentação financeira de várias empresas de fachada do esquema Cachoeira. Todas que aparecem na lista receberam remessas da Delta. Os valores chegam a R$ 291 milhões.

Lavanderia
A empresa Bet Capital Ltda. — antiga responsável pela exploração da loteria estadual do Rio Grande do Sul —, apontada pela Polícia Federal como sendo de propriedade de Cachoeira, totalizou aproximadamente R$ 5,3 milhões em remessas para o exterior. A BET é alvo da CPI. Análise dos 41 volumes de documentos relativos à declaração de Imposto de Renda dos últimos 10 anos do bicheiro Carlinhos Cachoeira, encaminhados pela Receita Federal à comissão, indica ainda que o contraventor tinha uma espécie de “lavanderia” internacional do dinheiro sujo obtido no Brasil.

Nas declarações de IR dos exercícios referentes a 2008, 2009 e 2010, o bicheiro informa que recebeu da empresa BET Capital R$ 11,4 milhões a título de empréstimos. A suspeita é de que os recursos da organização criminosa eram encaminhados para a empresa BET Company, estranhamente com sede na comunista Coreia do Norte, na Ásia, e acionária majoritária da BET Capital.

Carlinhos Cachoeira teria 49% das ações e a BET Company, outros 51%. O esquema aponta que o dinheiro saía do Brasil e voltava para a BET Capital, que emprestava milhões ao contraventor. Cachoeira declarou ter recebido da empresa R$ 2,8 milhões em 2008; R$ 4,3 milhões em 2009; e mais R$ 4,3 milhões no ano seguinte.

R$ 1,5 milhão
Valor enviado ao exterior por Carlinhos Cachoeira

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