O asilo a Assange - O Equador dá lição de dignidade e firmeza
O governo do Equador deu ao mundo uma lição de firmeza e dignidade ao
conceder «asilo diplomático» ao jornalista australiano Julian Assange,
fundador da Wikileaks, refugiado na sua embaixada em Londres desde o dia
19 de Junho.
A nota do Ministério das Relações Exteriores concedendo o asilo foi
emitida horas depois de ter recebido um «memorial» do governo britânico
informando que este concluíra ter o direito de invadir pela força as
instalações da embaixada equatoriana se Assange não lhe fosse entregue a
fim de ser extraditado para a Suécia.
Minutos depois, um forte dispositivo policial cercou o edifício da embaixada.
A manobra de chantagem produziu um efeito oposto ao visado pelo Foreign Office. O governo de Rafael Correa já deu provas que não se submete a ameaças do imperialismo.
A manobra de chantagem produziu um efeito oposto ao visado pelo Foreign Office. O governo de Rafael Correa já deu provas que não se submete a ameaças do imperialismo.
A iniciativa britânica foi obviamente recebida com espanto a nível
mundial. Não há precedentes na história das relações diplomáticas entre
estados soberanos de uma violação da total imunidade de que gozam as
embaixadas comparável à sugerida na nota do governo de Sua Majestade.
Nem Hitler durante a guerra mundial ousou invadir embaixadas de países
que haviam acolhido refugiados judeus. Nem Pinochet no Chile forçou a
entrada em qualquer embaixada para retirar gente perseguida pelo
exército.
O único caso conhecido de desrespeito frontal da inviolabilidade de
sedes de missões diplomáticas, garantida pela Convenção de Viena de 1949
e pela Convenção de Genebra de 1996 (e pela Carta da ONU, Declaração
Universal dos Direitos do Homem, etc.) ocorreu no Afeganistão em 1969
quando uma horda talibã invadiu a embaixada da ONU em Kabul e retirou
dali o presidente Muhamad Najibullah para o enforcar numa praça da
cidade.
A ameaça britânica é esclarecedora do nível ético dos atuais responsáveis pela política exterior do Reino Unido.
A reação do governo de Cameron à concessão do asilo a Julian Assange
veio aliás confirmar o servilismo de Londres, empenhado em atender
pressões dos EUA.
O ministro dos Estrangeiros, William Haggue, apressou-se a declarar que a
decisão equatoriana «não altera nada». O Reino Unido – disse – não
reconhece o direito de asilo. Afirmou que não será entregue um
salvo-conduto a Assange, que «será extraditado para a Suécia».
O processo contra o jornalista australiano tem aspectos folhetinescos.
Foi acusado pela justiça de Estocolmo de ter mantido relações sexuais
sem protecção com uma rapariga sueca.
Isso aconteceu quando corriam pelo mundo, entregues pela Wikileaks a
influentes jornais, milhares de documentos trocados entre as embaixadas
dos EUA e o Departamento de Estado, reveladores da existência de uma
rede de espionagem secreta altamente comprometedora para o imperialismo
norte-americano.
A Nota equatoriana sobre a concessão do asilo a Assange é uma peça diplomática solidamente fundamentada no direito internacional.
A exposição de motivos que justifica a decisão tomada pelo Presidente
sublinha os vícios do processo jurídico iniciado na Suécia contra
Assange e invoca a forte possibilidade de Assange ser extraditado para
os EUA onde «não teria um julgamento justo e poderia ser julgado por
tribunais especiais ou militares», não sendo de excluir que o
condenassem «a prisão perpétua ou na pena capital».
É imprevisível no momento o desfecho da situação criada pela recusa
britânica de respeitar a decisão soberana do governo do Equador.
Julian Assange vai provavelmente permanecer muito tempo na embaixada onde se encontra.
Mas enquanto o governo de Cameron projeta nestes dias no mundo uma
imagem desprestigiante ao tripudiar sobre princípios do Direito
Internacional estabelecidos por Convenções por ele assinadas, o
Presidente Rafael Correa torna-se credor da admiração da humanidade
democrática e progressista.
*comtextolivre
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