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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, janeiro 05, 2013

Ex-agente uruguaio revela: João Goulart foi envenenado. Direita quer que pensemos que a absoluta falta de escrúpulos do governo dos EUA e das elites latino-americanas não passa de paranoia de teorias da conspiração

 


por Paulo Jonas de Lima Piva

O governo dos EUA e as elites latino-americanas (incluindo aqui as oligarquias midiáticas e as cúpulas clericais das sucursais do Vaticano no continente) são capazes de tudo quando a sua hegemonia política e os seus privilégios econômicos são ameaçados por forças democráticas e populares. A história mais recente da América Latina é testemunha veemente que esses setores são desprovidos de quaisquer escrúpulos quando seus interesses estão em jogo. Para o imperialismo norte-americano em particular vale tudo: arquitetar golpes de Estado, financiar e dar apoio logístico a ditaduras militares sanguinárias, desenvolver tecnologias de tortura, intervir militarmente em países que não se submetem ao seu jugo, sabotar economias de países que tentam se desenvolver de maneira independente, manipular os grandes meios de comunicação para derrubar governos progressistas e destruir reputações de políticos honestos, chantagear governos e parlamentos, promover atentados terroristas, tentar assassinar líderes políticos que não aceitam ser sua marionetes.
Ou seja, a barbárie e o cinismo são as práticas políticas efetivas do governo dos EUA, por intermédio da sua CIA, nos bastidores dos acontecimentos históricos da América Latina. O curioso é que, no plano ideológico, a direita quer que pensemos que tais violências e aberrações políticas cometidas por uma superpotência e seus servos locais não passariam de risíveis paranoias de teorias da conspiração, possíveis só em filmes de Hollywood. Imaginar que o câncer de Lula, de Chávez, de Fernando Lugo e de Dilma teria sido uma obra sub-reptícia da CIA, que a morte num estranho acidente automobilístico do ex-presidente Juscelino Kubitschek, um democrata, por uma "Operação Condor", tudo não passaria de um delírio. O fato é que foram centenas os atentados da CIA contra Fidel Castro; é fato também que em 2002 Chávez foi vítima de uma tentativa de golpe de Estado planejado na embaixada norte-americana em Caracas, bem como que o nome do presidente equatoriano Rafael Correa está na lista de futuros assassinatos da mesma CIA de sempre. Não foi à toa que Chávez foi se tratar em Cuba, país, pelo menos em tese, livre das garras da imperialismo do Tio Sam.

A propósito, em outubro último, o ex-agente do serviço secreto uruguaio, Mario Neira Barreto, revelou que o ex-presidente brasileiro João Goulart foi envenenado a mando a ditadura brasileira, com conhecimento e val do então presidente Ernesto Geisel. Não é segredo para ninguém que a sanguinária ditadura militar brasileira teve total apoio e orientação do governo dos EUA. Na época da sua morte, 1976, João Goulart articulava um movimento para a  redemocratização do Brasil e era umas das figuras mais populares e influentes da oposição aos militares.
Não sejamos ingênuos.
*Opensadordaaldeia

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