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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 11, 2013


O segredo sujo da Europa

A política energética europeia gera o pior de todos os mundos possíveis

fonte | A A A
Enquanto a produção e o uso de carvão despencam nos EUA, na Europa “ocorre um tipo de era de ouro do carvão”, afirma Anne-Sophie Corbeau, da Agência Internacional de Energia. A quantidade de eletricidade gerada a partir de carvão está crescendo a taxas anualizadas de até 50% em alguns países europeus. Um vez que o carvão é de longe a mais poluente das fontes de eletricidade, com mais gases do efeito estufa produzidos por quilowatt hora do que qualquer outro combustível fóssil, esse fato está ridicularizando as aspirações ambientais europeias. Como isso aconteceu?
A história começa, novamente, com o gás de xisto americano. À medida que os usos residenciais americanos passaram a serem abastecidos por gás, os mineradores de carvão americanos tiveram que procurar por novos mercados. Eles o estavam fazendo em uma época em que uma demanda chinesa em desaceleração estava pressionando o preço do carvão para baixo, o qual caiu em um terço entre agosto de 2011 e agosto de 2010 e atualmente está abaixo de US$ 100 por tonelada. Esses preços entusiasmam os compradores europeus. As compras europeias de carvão americano subiram em um terço nos primeiros seis meses de 2012.
Comparado aos preços minúsculos do gás nos EUA, o carvão não é tão barato assim. Mas trata-se de uma barganha comparado ao preço do gás na Europa. Os contratos de gases europeus foram negociados há anos com a gigante do gás russa, a Gazprom, e apesar de uma onda de renegociações, os preços do gás europeu permaneceram altos. O setor doméstico europeu de gás de xisto está muitos anos atrás dos EUA e em parte porque levará tempo até que a Europa construa uma infraestrutura para importar gás natural liquefeito em grandes quantidades.
Em reação, as empresas estão trocando o gás por carvão o mais rapidamente possível, de modo que fontes de energia renováveis como o vento e a luz do sol estão de fato substituindo o gás, mas não o carvão. Mesmo em países europeus que não estão construindo novas usinas abastecidas por carvão, a quantidade de carvão usada como combustível está aumentando.
No momento, a política de energia da UE está incrementando o uso do combustível mais poluente, aumentando as emissões de carbono, prejudicando a reputação dos serviços públicos que dependem de eletricidade e espantando investimentos energéticos para outros lugares.
*NINA

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