O cinismo da oligarquia midiática brasileira: amedrontada com o crescimento da internet, "Folha de São Paulo" considera censura a regulação da grande mídia, mas defende a regulação para as redes sociais e para a blogosfera
Imprensa rejeita regulação para si, mas pede para os outros
por José Dirceu
29-Jul-2013
Neste domingo, a Folha de S.Paulo publicou editorial com ressalvas ao jornalismo feito nas redes sociais e
criticando a forma como elas disseminam produtos jornalísticos que não
criaram (sem pagar aos veículos de imprensa). Por fim, o jornal diz que
esses pontos precisam ser enfrentados pelo projeto do Marco Civil da
Internet, em tramitação na Câmara. Em resumo, a Folha defende a
regulação das mídias sociais (lembrando que o jornal rejeita essa mesma
regulação para a imprensa).
O editorial da Folha reflete uma realidade que já se expressou na
aprovação da regulação da TV a cabo, que contou com apoio da Globo,
única e exclusivamente para impedir que as teles produzissem conteúdo.
Naquela ocasião, a mídia aceitou a regulação da TV a cabo, e não da TV
aberta. A realidade se impôs, e agora começa a se repetir. Primeiro foi a
Globo – ela de novo – com os documentos que revelam a espionagem
institucionalizada dos Estados Unidos mundo afora; mas o alvo eram os
grandes monopólios como o Google e o Facebook.
A mídia tupiniquim tem vários desafios; não só as teles, mas também o
capital estrangeiro que está chegando à publicidade e ao audiovisual, a
internet que muda toda a composição dos gastos em publicidade e
revoluciona a comunicação e o jornalismo.
Mas essa mídia preferiu impor a estupidez, para não dizer burrice, de
que regulação é censura, como fez no começo do governo Lula com o
Conselho Federal dos Jornalistas e a Ancinav (Agência Nacional do Cinema
e do Audiovisual), para aceitar a Ancine como agencia reguladora na TV a
cabo.
Assim como vai pedir a regulação, como já fez a Folha, regulação com
objetivos corporativos, palavra bonita para dizer interesses comerciais e
políticos, já que a mídia é essencialmente um ator político – no nosso
caso, agravado pelo monopólio e pela ausência total de regulação segundo
o que manda a nossa Constituição –, e não apenas para defender a
“imprensa brasileira e o conteúdo nacional”.
Quando interessa aos barões da mídia nativa, clamam contra a invasão
estrangeira e a inevitável hegemonia da internet e das redes sociais,
contra o fim de sua importância e sua relevância política como
instrumento de pressão sobre os governos e suas políticas de acordo com
os interesses de seus donos, de seus negócios e ideologias, de suas
preferências políticas e partidárias.
Ontem, foi a regulação da TV a cabo; hoje é das redes sociais. Mas a da
própria mídia é tratada como censura, o que evidentemente é
insustentável até do ponto de vista ético.
*Opensadordaaldeia
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