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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 25, 2013

Viva o beijaço!


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Não são os jovens que devem partir em busca do Papa. Mas o Papa que deve ir atrás deles
Compreendo quando Leonardo Boff diz que Francisco pode representar a ruptura na Igreja Católica que João Paulo II e Bento XVI tanto temiam. Torço para que seja verdade.
Uma Igreja tolerante é menos nociva do que uma Igreja autoritária e repressiva.
Também reconheço que, num país onde 62% da população declaram-se católicos, a presidenta da República faça o possível para encontrar pontos de contato com o Papa e a fatia da população que ele representa.
O País tem muito a agradecer àquela parcela da Igreja que, nos tempos mais difíceis da ditadura, defendeu os fracos e indefesos.
Nada disso esconde, porém, um fato extremamente relevante. A atitude decente e democrática diante da visita do Papa é o beijaço dos gays, o protesto dos jovens, o clamor contra a repressão sexual e um sistema dogmático que oprime seres humanos em nome de noções absolutistas que trazem o preconceito, alimentam a violência e, com base na hipocrisia, podem trazer o crime e até a morte.
Não são os jovens que devem partir em busca do Papa.
Mas o Papa que deve ir atrás deles.
Esta é a mensagem do futuro.
Quem não entendeu isso não entendeu nada – observação definitiva do Iluminismo sobre a cena política contemporânea e seus críticos.
*comtextolivre

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