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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 26, 2013

O terreno, preparado para receber cerca de 1,5 milhão de fiéis, foi tomado por lama

 
O papa no Brasil
Lama cancela dois eventos e muda roteiro do papa no Rio
Após chuva em Guaratiba, Jornada retira vigília e peregrinação da agenda
Falha de organização transfere missa final para Copacabana e expõe autoridades a novo constrangimento
DO RIO A organização da Jornada Mundial da Juventude cancelou ontem dois dos eventos previstos para o final de semana em razão da impossibilidade de uso do Campus Fidei, estrutura montada em Guaratiba, na zona oeste do Rio.
O terreno, preparado para receber cerca de 1,5 milhão de fiéis, foi tomado por lama após as chuvas que atingiram a região desde quarta-feira, o que passou a ameaçar a segurança dos peregrinos, de acordo com a prefeitura.
A vigília de orações, prevista para ocorrer entre a noite de sábado e a manhã de domingo, e a peregrinação de 13 quilômetros, foram eliminadas da programação.
O encontro de amanhã e a missa de encerramento no domingo, ambos com participação do papa Francisco, foram transferidos para a praia de Copacabana.
"Foi uma decisão difícil, mas responsável, pensando sempre na segurança do nosso peregrino. Copacabana sempre foi o nosso plano B, que agora teremos que colocar em prática", disse dom Paulo Cezar Costa, vice-presidente do comitê organizador.
Apesar de ter passado por terraplenagem e obras de infraestrutura para receber os peregrinos, o Campus Fidei não suportou as chuvas.
Especialistas ouvidos pela Folha apontam erro de planejamento, já que o local é "naturalmente alagável".
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) resistiu ao cancelamento. A Folha apurou que desde a semana passada havia o temor de que o local não tivesse condição de receber os peregrinos.
O receio era de pane de infraestrutura e de problemas de acesso. As chuvas pioraram a situação.
Ontem um caminhão de refrigerantes que abasteceria um dos 32 pontos de apoio aos peregrinos ficou atolado no terreno. Funcionários da prefeitura que vistoriaram a área ontem pela manhã chegaram a afundar a perna na lama até a altura do joelho.
Paes só foi convencido depois que técnicos disseram que havia sério risco para os jovens, não só de saúde, mas também de acidentes.
O prefeito disse que a Jornada não recebeu "um tostão de dinheiro público". Segundo ele, o gasto de R$ 26 milhões informado na semana passada se referia a serviços públicos comuns aos grandes eventos, como limpeza pública, segurança e saúde.
Ele afirmou que a dragagem de um rio e três canais que passam pela área custou R$ 6 milhões. O palco, que não poderá ser utilizado, consumiu R$ 5 milhões, valor que teria sido obtido com doações.
De acordo a prefeitura, houve gastos com urbanização de diversas ruas e instalação de sinalização.
A chuva que provocou o lamaçal não foi extraordinária, mas concentrada entre quarta e ontem. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, choveu 51,6 mm no período na estação mais próxima de Guaratiba. O acumulado em julho foi de 72,2 mm --longe dos mais chuvosos em 2004 (177,6 mm) e 2010 (171,4). 
*Nádia S.

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