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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, dezembro 10, 2013

    Vitória na Organização Mundial do Comércio sob a coordenação de um brasileiro, afunda jornalismo do contra



Quando Roberto Azêvedo foi indicado para o comando da Organização Mundial do Comércio, numa vitória histórica da diplomacia brasileira, costurada também pelo ministro Fernando Pimentel, colunistas conservadores, como Reinaldo Azevedo, fizeram pouco caso; blogueiro de Veja chegou até a dizer que era “irrelevante”; neste sábado (7), um de seus colegas neoconservadores, Demétrio Magnoli, escreveu sobre o “desastre” consumado na OMC e afirmou que o Brasil estava se convertendo em “ilha”; neste sábado, mundo comemora acordo que pode destravar US$ 1 trilhão em transações comerciais

Pescado do Brasil 247

247 - A tendência da maioria dos analistas da mídia brasileira em sempre enxergar fracasso mesmo nas situações mais positivas da economia e da política brasileira teve novo revés neste fim de semana. Colunistas, como o conservador Reinaldo Azevedo (de Veja.com e Folha), e seu aprendiz, Demétrio Magnoli (de Folha), foram extremamente pessimistas com a ação do brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). E viram suas previsões falharem diante do acordo mundial históricofechado neste sábado (7), para derrubar barreiras comerciais e gerar até 1 trilhão de dólares em negócios.

O “The New York Times”, principal jornal do mundo, viu o resultado final da reunião da OMC na Ilha de Bali, na Indonésia, como “um marco para os 159 membros” do organismo internacional. E disse mais: o acordo “resgata a OMC à beira do fracasso e irá reacender a confiança em sua capacidade de reduzir as barreiras ao comércio mundial após 12 anos de negociações infrutíferas” (leia artigo original – em inglês – aqui).

Mas os colunistas da mídia nacional, até a manhã deste sábado, viam o acordo da OMC como “um desastre”. Para Demétrio Magnoli, em sua coluna na Folha, a OMC seria reduzida à condição de “ente vestigial, um tribunal de contenciosos comerciais”. E continua na onda negativa: “O fracasso atinge em cheio o Brasil, evidenciando uma sequência de erros de política externa causados pela subordinação do interesse nacional ao imperativo da ideologia”, escreveu Magnoli, acrescentando que “não faltaram alertas”.

Diante do acordo firmado, ainda bem que esses “alertas” não foram ouvidos. Uma dessas gritas contra a OMC, que está desde maio nas mãos de um brasileiro, o Roberto Azevêdo, foi de outro Azevedo, o Reinaldo. O que ele disse? “Azevêdo na OMC significa que o resto do mundo aplaude a nossa incompetência. Até porque os EUA, a União Europeia, a China, o Canadá, o Chile e o Peru continuarão a fazer os seus acordos bilaterais, independentemente do evangelho de Azevêdo. Poderão até declarar o Brasil campeão moral do multilateralismo, mas continuarão mesmo a ganhar dinheiro com o bilateralismo”.

A visão dos “fracassomaníacos” se mostrou equivocada. Mais uma vez. Graças a capacidade de um diplomata brasileiro, o mundo se surpreendeu com um acordo comercial que poderá ajudar a tirar os países da crise. Articulador da vitória de Azevêdo na OMC, o ministro Fernando Pimentel destacou desde o início “sua capacidade para o diálogo e construção do consenso”. Acertou em cheio.

Na previsão que fez em maio, em artigo que publicou na Folha, Pimentel usou os seguintes termos: “Que entre para a história pelas razões mais nobres uma gestão que resgate a importância do multilaterismo e devolva à OMC sua função de reguladora das relações comerciais globais”. É, Pimentel, a atuação de Roberto Azevêdo já entrou para a história.

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