Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 12, 2014

Dilma: por trás dos panos tem coisa pior que partidos políticos




Jornal GGN - Dilma Rousseff (PT) encerrou nesta sexta-feira (12) a série de sabatinas com os principais presidenciáveis promovida pelo jornal O Globo afirmando que "por trás dos panos, tem coisa pior que partidos". A declaração foi uma resposta ao discurso de Marina Silva (PSB), que defende uma "nova política" rejeitando as legendas convencionais, vibrando pelos "homens de bem". Segundo a presidente, a visão marinista de reforma beira, ingenuamente, o sentimento antidemocrático.

A petista, que lidera as pesquisas de intenções de voto, pincelou algumas propostas para economia, segurança, educação e saúde. Ela defendeu uma reforma política conduzida por um plebiscito. Rejeitou o discurso anti-política abraçado por Marina. Reafirmou uma agenda pró-LGBT com o que cabe ao Estado como prioridade: lutar pela criminalização da homofobia e garantir direitos civis.

O GGN selecionou alguns tópicos:

“O que deu de errado em seu governo, presidente?”

O colunista Artur Xexéu quis ouvir os “arrependimentos” de Dilma enquanto comandante do Palácio do Planalto. Incitou um balanço de governo com foco “no que deu de errado”. A petista disse que nenhum gestor público fica satisfeito com o que fez, porque “sempre é possível fazer mais”. Emendou com diretrizes para a saúde.

“Nós temos uma grande escala de brasileiros para atingir, e em alguns programas não estou satisfeita, precisamos aumentar a escala. Na saúde, por exemplo, acho que o Brasil ainda tem deficiência em especialistas. As pessoas ficam nas filas esperando para marcar consultas, exames. É uma área que eu atacaria num segundo mandato com o mesmo destemor que eu ataquei a falta de médicos [com o Mais Médicos]. E vou te dizer que aquilo não foi fácil. Tinham regiões no Pará que não viam médicos desde o descobrimento do Brasil!”, exclamou a presidente. Em educação, ela adiantou que acredita numa reforma do ensino médio, mas não detalhou.

Segurança: reforma federativa e ações integradas
Questionada sobre um visível enfraquecimento das instituições e políticas de segurança nas últimas décadas, Dilma disse que é consenso, em seu governo, que enquanto o crime organizado atua de maneira completamente orquestrada, falta integração às forças policiais do Estado. Ela afirmou que vai mudar isso em um possível segundo mandato, tomando como modelo os esforços para garantir a segurança da população e turistas durante a Copa do Mundo no Brasil.

“Nós achamos que temos que mudar a Constituição, porque a União tem que ser responsável pela segurança pública. Hoje, isso é atribuição dos estados, e sempre vemos a atitude de lavar as mãos. Não pode ser assim. Na Copa, não podíamos deixar essa quebra na segurança. Fizemos o Centro de Comando e Controle. Cada corporação respondia à sua própria hierarquia, mas nós conseguimos um grau de atuação integrada de alta qualidade. Não queremos que isso seja transitório, mas sim reproduzir esses Centros em todos os estados”, propôs.

Reforma política
O colunista de política Ilimar Franco puxou a pauta das manifestações de junho de 2013 e o plebiscito da reforma política como uma das repostas de Dilma à população. “Sem sucesso”, segundo ele avaliou, já que o Congresso não levou adiante. Ilimar lembrou que Marina vocaliza o sentimento “anti-política” das ruas, e perguntou qual seria a estratégia de Dilma diante disso, além de pedir detalhes sobre a reforma política proposta pela petista.

Dilma defendeu que o País avançou, nos últimos anos, na direção de uma sociedade mais inclusiva e democrática. Porém, a política continua atrasada. “O que avalio é que não vamos passar a reforma que precisamos simplesmente pela mão do Congresso [como defende Marina]. Isso foi tentado pelo Lula e não teve sustentação. Eu acredito que, de fato, a melhor ideia é fazer consulta popular. Só essa consulta vai dar legitimidade e força àquilo que a população resolver. É a população que vai votar majoritariamente por uma reforma - e eu não vou dizer qual reforma é essa, pois isso também tem que ser decidido pelo povo”, defendeu a presidente.

Leia mais: O dia em que entrevistadores se explicaram para Dilma
Ela defendeu que um plebiscito traga à tona pelo menos “cinco tópicos”. Entre eles, o financiamento público de campanha, o tempo máximo de mandato para o Executivo e a realização conjunta ou não das eleições para prefeito, governador e presidente. Os outros dois não foram explicados graças a intervenções do jornalismo de O Globo.

“Por trás do pano, tem coisa pior que partidos políticos

Enquanto Aécio defende um referendo e Marina, uma “reforma política nas urnas”, Dilma apostou no plebiscito. E criticou o discurso da pessebista: “Dizer que vai governar com os bons não é uma proposta. Quem é que vai governar com os maus? Todo mundo quer governar com os bons! Mas só isso não resolve o problema da reforma política. Eu tenho visão diferente [de Marina]. Para mim, a democracia não pode prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, caímos na mais negra das ditaduras”, alertou.

Dilma sugeriu ainda que a população discuta o número de partidos na praça hoje. “Acho que tem partidos demais, sim, que tem alguns que são excessivos. Mas é o povo que vai dizer. Não tenho dúvida de que não se governa sem partidos. Pode esperar que por trás dos panos, tem coisa muito pior que partido. Partido pelo menos briga na luz do dia. Nós temos muito pouco tempo de democracia para correr riscos”, explanou.

Religião e agenda LGBT
Questionada sobre religião, Dilma, “na condição de cidadã”, respondeu que foi aluna de um colégio de freiras na juventude e começou a fazer política com um núcleo chamado “Grupo Gente Nova”. “Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos princípios da religião católica. A religião tem uma base ética entre as pessoas. Isso, para mim é um valor”, comentou. A Dilma presidente, entretanto, pediu destaque à seguinte ressalva: “O Estado é laico, o Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar qualquer religião em religião do Estado”, bradou.

Quanto à agenda LGBT, Dilma reafirmou o compromisso com a criminalização da homofobia e a garantia de direitos civis a todos os cidadãos que integram o segmento. Mas colocou um limite ao papel do gestor público.

“O Estado não tem a obrigatoriedade de impor o casamento religioso. O Estado é laico e não pode interferir nas religiões. O Estado tem obrigação, sim, de reconhecer direito de herança, adoção e todos os direitos civis que pessoas heterossexuais tenham. Essa questão foi resolvida até pelo Supremo Tribunal Federal. Isso está pacificado. A discussão central agora é sobre a homofobia. A criminalização num país como o Brasil é absolutamente necessária, assim como foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.”

Independência do Banco Central
Para Dilma, a proposta de tornar o Banco Central independente, de Marina, é um “equívoco”. “A independênca do Banco Central seria um quarto poder completamente questionável”, explicou. A petista defendeu relativa autonomia da instituição, de modo que o presidente tenha autoridade para nomear e destituir dirigentes. Ela concordou com o modelo de autonomia praticado durante o governo FHC, mas questionou os interesses de Marina em tornar o BC completamente independente. “O Banco Central não é um poder, não teve presidente eleito pelo povo. Tem que ter um mandato certo”, disse.

Embate com adversários
Sobre o embate político com os adversários, Dilma disse que apenas trava batalhas com Aécio e Marina no campo das propostas e ideias. “Toda minha divergência com Marina está baseada em propostas. Ela quer diminuir o papel dos bancos públicos, e isso preciso ser discutido sim. Vai acabar com uma série de financiamentos e investimentos. Não ficará pedra sobre pedra se acabarem com a presença dos bancos públicos”, disparou.

CPI e alianças com Collor e Sarney
Sobre CPIs que não avançam no Congresso, Dilma foi cobrada por não ter determinado à base governistas que, no caso Petrobras, por exemplo, as apurações fossem conclusivas. Ela respondeu que o Congresso tem autonomia em relação ao Executivo e ainda avaliou que investigações parlamentares, principalmente contra a estatal, têm caráter político.

“Todo ano eleitoral tem CPI da Petrobras, e outras CPIs necessárias não andam. Não houve uma CPI do Metrô, com a história da Alstom e o governo do Estado de São Paulo. Não há prosseguimento ao chamado mensalão mineiro. Acho que no caso das CPIs, elas não têm tanto poder investigatório como outros órgãos [Polícia Federal, Ministério Público, etc]. Elas podem contribuir com grande papel, mas não podem fazer CPI em cima de uma reportagem de uma revista. Não há base legal, não forma prova, isso”, criticou.

Confrontada por um internauta acerca da manutenção de figuras como Sarney e Collor no arco de alianças do governo, Dilma disse que é naturalmente possível firmar alianças diversas e ainda manter sua posição integral. Ela acrescentou que respeita o ex-presidente e que não é uma “instância de poder para julgar Collor” - embora seja pressionada a fazê-lo.

Ela lembrou que quem elegeu tais parlamentares foi o povo. “O que não é possível é querer que o presidente da República casse, tire direitos políticos e afaste as pessoas”, finalizou.



Economia de defesa do Estado 
Dilma pintou o contexto do cenário global com os jornalistas de O Globo para sustentar o que chamou de “política econômica defensiva” durante seu governo. Segundo ela, cobram dela e do Ministério da Fazenda uma reação de crescimento que nenhum país esboçou ainda, em função da crise internacional.

“O importante é que durante a crise nós não desempregamos, não reduzimos salário e ainda investimos em coisas que nunca se investiu antes. Onde já se viu investir bilhões em transporte de massa durante uma crise?”, indagou. “Eu assumo que tive uma política defensiva em relação à crise. Eu sei o tamanho da crise e acho que vocês também conhecem os números. Vimos a falta absoluta de políticas de austeridade, no mundo, que acabou levando à tal da geração nem-nem - nem trabalha, nem estuda. Nós precisamos, agora, de uma política ofensiva, de retomada da produtividade”, acrescentou.

Segundo ela, a base para o salto na economia foi construída, em parte, pelos investimentos em cursos profissionalizantes. Ela citou o Pronatec e a formatura de mais de 8 milhões de pessoas. Outra base citada foi a criação do Ciência Sem Fronteiras. Ela ainda reafirmou a saída do ministro Guido Mantega do primeiro escalão de um possível segundo mandato.
*Briguilino

Nenhum comentário:

Postar um comentário