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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 12, 2014

Quem se abstêm de combater pelos direitos civis no Brasil leva água ao moinho do fascismo.



1948095_280639718769567_8783289246558752228_n“Se eu fosse querer parar o jogo a cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todos os jogos iriam parar. O torcedor grita mesmo”. 
Essa frase foi proferida por Edson Arantes, outrora conhecido como Pelé, em entrevista no dia 10 de setembro. É uma frase que tem um claro objetivo: naturalizar o racismo e a repressão ao negro, pregando a resignação. Foi uma frase emitida na mesma semana em que a agressora do goleiro Aranha, Patrícia Moreira, percorreu os principais programas de auditório da TV da família Marinho, se fazendo de vítima.
O objetivo maior é propagar o medo. Neste 11 de setembro, um Centro de Tradições Gaúchas – CTG da cidade de Santana do Livramento – RS que realizaria a celebração de um casamento coletivo onde um dos casais é gay, foi incendiado após ameaças. Outra casal gay desistiu da cerimônia em virtude das ameaças.
No dia 10 de setembro, na região metropolitana de Goiânia, o jovem João Antonio Donati, de 18 anos, foi sequestrado, torturado, teve as duas pernas e o pescoço quebrado e morreu como resultado da tortura. Os assassinos deixaram em sua boca um bilhete: “Vamos impedir que essa praga se espalhe”. O crime de João Antonio era ser gay.
Quase sempre, um novo Amarildo desaparece nas mãos da polícia militar. No dia 29 de Agosto, foi o jovem Davi da Silva, 17 anos, morador do bairro Benedito Bentes, em Maceió – AL. Sua mãe declarou: “Não sei mais o que fazer, nem a quem recorrer. Meu filho morava comigo e era a única companhia que eu tinha. Sei que ele estava errado quando foi abordado pelos policiais, porque estava com maconha, mas a função da polícia é prender, e não fazer com que uma pessoa desapareça deixando a família aflita.”
Negros, gays, moradores da periferia vivem sob o medo e a polícia e a mídia querem que eles se resignem, se escondam e se enquadrem na “moral e bons costumes”. Há os que comemoram tantas mortes e violência, dizendo que isso é normal. Mas há, também, os que olham para o lado e fingem não ver, abrindo mão de lutar de maneira resoluta contra o racismo, o machismo e a homofobia.
A verdade é que o clima de negação dos direitos civis mais básicos, somado ao medo e à resignação social são o melhor caldo para o desenvolvimento do fascismo. O fascismo ganha a consciência de grande parte da sociedade quando consegue convencer que a solução para os problemas sociais é prisão, repressão, perseguição e ordem, quando, muito pelo contrário, o Brasil só poderá resolver seus problemas com mais direitos, igualdade social e liberdade de organização e expressão.
Quem se abstêm de combater pelos direitos civis no Brasil leva água ao moinho do fascismo.
Jorge Batista, São Paulo

*AVerdade

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