Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, janeiro 01, 2015


eua no afeganistãoApesar do tão propalado poderio militar norte-americano e das centenas de bilhões de dólares gastos com a chamada “guerra ao terror”, as tentativas dos Estados Unidos de acabar com a Al-Qaeda e impor à força governos submissos aos seus interesses e aos grandes monopólios capitalistas no Oriente Médio fracassaram vergonhosamente, levando a região a uma grave crise econômica, política e humanitária.
De fato, ao invés da democracia e da prosperidade prometidas, Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria encontram-se hoje afundados em guerras civis, com suas economias destruídas, suas riquezas saqueadas e vivendo na mais completa miséria.
Afeganistão
Desde o início da ocupação estadunidense, em 2001, a população afegã vem sofrendo com o aumento da violência. Segundo a ONU, nos seis primeiros meses deste ano o número de civis mortos no Afeganistão aumentou 17% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, 1.564 pessoas perderam suas vidas, enquanto outras 3.289 ficaram gravemente feridas, vítimas de conflitos entre as forças oficiais e o Talibã, que ainda controla boa parte do país.
Apesar das inúmeras riquezas que possui – o Afeganistão tem reservas de petróleo estimadas em 1,8 bilhão de barris e é rico em ferro, cobre, cobalto, ouro e metais fundamentais para a indústria, como o lítio – a pobreza cresceu, a expectativa de vida diminuiu drasticamente, enquanto a mortalidade infantil, a fome e a desigualdade social estão entre as maiores do mundo. Hoje, 36% da população vive abaixo da linha da miséria, 35% dos adultos estão desempregados e 1,5 milhão de pessoas passam fome. O país tem também a segunda maior taxa de mortalidade materna do mundo, atrás apenas de Serra Leoa, e a maioria dos afegãos não tem acesso à água potável, ao saneamento básico e à luz elétrica – em pleno século 21.
Iraque
Onze anos após a invasão norte-americana, o Iraque vive uma profunda guerra civil e está praticamente desgovernado. Como resultado, o território iraquiano tem sido controlado por grupos paramilitares armados e financiados pelos Estados Unidos anteriormente, como é o caso do Estado Islâmico, que já domina parte das regiões norte e noroeste do país.
As tão procuradas armas químicas e de destruição em massa jamais foram encontradas, bem como nunca foram comprovadas as supostas ligações do antigo governo iraquiano com grupos terroristas.
A verdade é que o Iraque hoje é um país completamente destruído e dividido pela guerra. Centenas de milhares de pessoas perderam suas vidas e outras tantas foram mutiladas, e a insegurança, o desemprego, a fome e a falta de água potável e outros serviços básicos são uma realidade para a maioria do povo.
Segundo a Cruz Vermelha, 25% da população iraquiana vive abaixo da linha da miséria, 64% enfrentam dificuldades econômicas sérias para sobreviver, 88% não têm acesso à luz elétrica e 86% não têm água em casa. A desnutrição atinge mais de 30% dos habitantes e cerca de 70% das crianças iraquianas sofrem de problemas psicológicos.
Líbia
Intensamente bombardeada pelas tropas da Otan, a Líbia vive em meio ao caos desde que um levante apoiado pela mesma Otan derrubou e matou o ex-presidente Muamar Kadafi, em 2011.
O país sofre com a guerra civil entre milícias, conflito que já matou mais de 50 mil pessoas. Segundo relatório da ONU divulgado no começo de setembro, nos últimos quatro meses os conflitos pelo controle das duas maiores cidades do país, Trípoli e Benghazi, provocou a fuga de mais de 250 mil pessoas. Até embaixadas foram fechadas. Tanto o governo quanto o parlamento líbio encontram-se refugiados na cidade de Tobruk devido à falta de segurança, enquanto na capital, Trípoli, um governo paralelo foi instalado.
Síria
Na Síria a situação não é diferente. Mais de nove milhões de sírios já abandonaram suas casas e cerca de 11 milhões de pessoas precisam da ajuda humanitária para sobreviver.
Segundo o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), 2,9 milhões de sírios estão refugiados em outros países, número que aumenta em 100 mil pessoas todos os meses e deve chegar a 3,6 milhões até o fim do ano.
Ainda segundo a ONU, o número de mortos no país até abril deste ano é de 191.369, mas está subestimado, pois muitas mortes nunca foram registradas. Entre as vítimas, pelo menos 8.803 eram crianças, das quais 2.165 tinham menos de 10 anos. “Lamento profundamente que, com o surgimento de tantos outros conflitos armados neste período de desestabilização global, os combates na Síria e as suas consequências dramáticas para milhões de civis tenham desaparecido dos radares internacionais”, desabafou a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.
Desde o início, os Estados Unidos e outras potências imperialistas articularam as manifestações de oposição ao governo sírio, financiando e armando grupos paramilitares, alguns deles ligados à Al-Qaeda, que hoje promovem um verdadeiro massacre contra a população do país.
Nova ofensiva
Apesar disso, nenhuma das potências imperialistas parece se preocupar com o sofrimento dos povos desses países ou pensa em rever sua política para região. Ao contrário, continuam gastando fortunas na compra de novos aviões, tanques, mísseis, fuzis, navios, submarinos e drones, e quase nada para resolver a fome e todos os outros problemas sociais que eles mesmos provocaram.
Ao mesmo tempo, enquanto as guerras do imperialismo ferem a soberania dos povos e matam e destroem as esperanças de milhões de pessoas no Iraque, Afeganistão, Síria e Líbia, a indústria do petróleo não tem do que reclamar, pois viu seus lucros dispararem devido aos conflitos no Oriente Médio. De fato, em 2003, o preço do barril de petróleo custava cerca de US$ 25, enquanto hoje gira em torno de 95 dólares, tendo chegado a US$ 140 em 2008. Outros setores econômicos também têm lucrado bastante com as guerras, especialmente a indústria de armas e a da reconstrução.
É para garantir esses lucros que, desde o início da “guerra ao terror”, em 2001, os Estados Unidos já lançaram mais de 94 mil ataques aéreos contra países como o Iraque, Afeganistão, Líbia, Paquistão, Iêmen e Somália, matando centenas de milhares de pessoas, e agora preparam uma nova ofensiva militar, desta vez contra a ameaça do chamado “Estado Islâmico”.
França e Austrália já divulgaram que participarão dos ataques, enquanto o Reino Unido planeja criar novas bases militares nos Emirados Árabes Unidos, Omã e Bahrein para apoiar as operações.
Trata-se da continuação de uma guerra injusta, ilegal e covarde. Injusta porque é uma guerra imperialista, uma guerra de pilhagem, cujo objetivo é tomar posse das riquezas desses países e explorar seus povos. Ilegal, pois desrespeita os mais básicos princípios do direito internacional e da livre determinação e soberania dos povos, passando por cima de várias resoluções da ONU e da vontade da opinião pública mundial. E covarde porque se trata de uma agressão dos maiores exércitos do mundo contra países pobres e indefesos.
Heron Barroso, Rio de Janeiro
*Averdade

Nenhum comentário:

Postar um comentário