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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, abril 04, 2015

Em reunião inédita sobre direitos humanos, Cuba questiona violência e racismo nos EUA


Conversa é parte do processo de normalização das relações diplomáticas; ilha caribenha também questionou 'limbo jurídico' dos prisioneiros de Guantánamo. 
Crítica de Latuff as violações de DHs na estadunidense Guantanamo

A reunião preliminar realizada entre Estados Unidos e Cuba para definir a metodologia e a estrutura das próximas conversas sobre direitos humanos, realizada a portas fechadas em Washington, foi concluída na última terça-feira (31/03) “de maneira exitosa”, de acordo com fontes do Departamento de Estado dos Estados Unidos. A ilha, no entanto, aproveitou a oportunidade para destacar o avanço que obteve com relação ao tema e questionar o país norte-americano a respeito de questões como violência policial, discriminação racial e a situação dos presos de Guantánamo.

Apesar do “clima profissional e de respeito” existente segundo a delegação cubana, ambas as partes evidenciaram a falta de concordância sobre o tema.

Ao contrário dos cubanos, o governo norte-americano não entrou em detalhes sobre a reunião. O principal ponto abordado pelos Estados Unidos no que se refere aos direitos humanos da ilha caribenha diz respeito à maneira como os dissidentes políticos são tratados.

Em entrevista coletiva concedida à imprensa, o subdiretor geral de Assuntos Multilaterais e de Direito Internacional da Chancelaria cubana, Pedro Luis Pedroso, afirmou que a ilha manifestou preocupação pelos “padrões de discriminação e racismo na sociedade norte-americana, o agravamento da violência policial, os atos de tortura e execuções extrajudiciais na luta antiterrorista e o limbo jurídico dos prisioneiros mantidos na prisão de Guantánamo”.

Delegação cubana nos EUA. Por Ismael Francisco/CubaDebate
Além disso, a delegação cubana também ressaltou preocupações pelas limitações aos direitos trabalhistas e liberdades sindicais. Apesar das diferenças na “concepção e exercício dos direitos humanos”, Pedroso ressaltou que o diálogo inédito evidenciou ser possível “se relacionar civilizadamente, a partir do reconhecimento e respeito às diferenças”.

Para a embaixadora de Cuba em Genebra, Anayansi Rodríguez Camejo, “é óbvio que existem diferenças entre ambos os países na abordagem dos direitos humanos, tanto do ponto de vista nacional, como na proteção ou promoção dos direitos humanos nos respectivos países”.

Isso porque segundo a diplomata, Cuba vê esses direitos de maneira “indivisível, interconectada, integral” e acredita que “algumas pessoas não têm valor superior a outras”.

O diálogo sobre direitos humanos soma-se a outros temas de interesse bilateral analisados em meio ao processo de restabelecimento das relações diplomáticas e abertura de embaixadas, iniciado em 17 de dezembro, quando os presidentes Raúl Castro e Barack Obama anunciaram a normalização dos vínculos entre os países.

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