Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, abril 04, 2015

Rússia ajudará a combater crise hídrica


Líderes dos países do BRICS durante a cúpula de G20 em Brisbaine

Rússia ajudará a combater crise hídrica no Brasil

© Sputnik/ Alexei Druzhinin

Vladimir Kultygin
Na quinta-feira (2), a Rússia abriu oficialmente o ano da sua presidência nos BRICS com uma conferência dedicada à “Parceria econômica dos países dos BRICS como base de um mundo multipolar”. É o primeiro evento dedicado aos BRICS que a Rússia realiza enquanto presidente rotativo do grupo.
O evento, hospedado pelo Instituto de Pesquisa Estratégica da Rússia (RISS, na sigla me inglês), contou com a participação de representantes do Brasil, China e Índia e, da parte russa, de vários nomes eminentes da política econômica nacional. A África do Sul não esteve presente por razões de trabalho, mas a embaixada mandou uma mensagem desejando aos BRICS uma boa presidência russa.
Na sua intervenção, o embaixador do Brasil na Rússia, Antônio José Wallim Guerreiro, destacou o futuro papel das novas instituições financeiras que estão sendo criados no seio do grupo, o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas. Expressou também a esperança de que a presidência russa seja eficaz e haja muitos projetos conjuntos.
Já Xie Xiaoyong, ministro plenipotenciário da embaixada chinesa na Rússia, lembrou que “é pela primeira vez na história que o crescimento econômico não vem dos países desenvolvidos, senão dos emergentes”.
E o Conselheiro-Embaixador da Índia na Rússia, Rakhul Srivastava, disse que os BRICS não só buscam melhorar o futuro dos seus membros, senão de todo o mundo.
Aliás, foi tocado também o assunto da eventual ampliação dos BRICS. Vários especialistas advertiram que uma ampliação incessante pode ser perigosa (basta ver o exemplo da UE, diziam), por isso é muito cedo para discutir a adesão da Argentina ou qualquer outro país.
Negócio russo conquista o Brasil
Um dos temas importantes discutidos na conferência foi a participação do negócio russo no âmbito dos BRICS. Segundo Dmitry Burykh, vice-chefe do departamento dos EUA e América Latina do Centro de Pesquisa Euro-Atlântica e de Defesa do RISS, “há uma tendência de crescimento do intercâmbio comercial entre a Rússia e o Brasil”.
Burykh sublinhou que as revelações de Edward Snowden fazem o governo brasileiro cada vez mais aberto para aceitar as tecnologias informáticas russas, que afinal poderão substituir as estadunidenses, que são vistas como menos seguras após o escândalo de espionagem.
Exemplo do uso de tais tecnologias é a empresa russa ABBYY, especializada em linguística aplicada e captura de caracteres e dados. O software da ABBYY é utilizado, segundo a sua vice-presidente de Desenvolvimento Comercial, Ekaterina Solntseva, inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil.
Mas há também outra vertente de cooperação, que agora parece ainda mais prática e necessária: o negócio russo participa da solução da crise hídrica no Brasil. Dmitry Kotenko, representante da empresa Voronezh-Aqua, vê “grande potencial” no emprego das suas tecnologias nas regiões do Brasil afetadas pela falta de água. Esta parceria acaba de surgir e terá ainda que se fortalecer, mas os especialistas presentes no evento de ontem acreditam que terá sucesso.
Parceiros, não aliados
A conclusão geral da discussão foi a seguinte: os países dos BRICS “não são aliados, senão parceiros”. Não são aliados porque aliados unem-se contra alguém, e os BRICS nem pretendem se colocar o objetivo de confrontar ninguém, afirmam os participantes do evento. Se há uma contraposição aos Estados Unidos, vem dos próprios Estados Unidos, sublinham.
O mundo multipolar, frisam os cientistas políticos e economistas, não significa uma mudança de polarização mundial transferindo o “centro” dos EUA para os BRICS, senão o fomento à diversidade. O Banco dos BRICS também não pretende substituir por completo o Banco Mundial, mas, sim, criar uma alternativa mais inclusiva.
E sendo parceiros, podem ser concorrentes. Por isso, é preciso definir (e talvez nas reuniões deste ano, inclusive na cúpula em Ufa) o modo de cooperação e ações conjuntas.
As propostas são muitas. Os palestrantes destacam a importância de fortalecimento da infraestrutura do grupo BRICS através da criação de instituições conjuntas, de uma arquitetura eficiente e segura das relações internacionais. A essência comum de todas as sugestões é que esta arquitetura comum tanto deve abranger os países ao nível internacional, quanto viabilizar concorrência interna, fomentando o desenvolvimento eficiente e sustentável.


Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20150403/653066.html#ixzz3WNgAiWr2

Nenhum comentário:

Postar um comentário