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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 08, 2015

Tenho, em Pagu, uma das minhas referências


Presa pela ditadura Vargas - que durou de 1937 a 1945 e colaborou com o regime nazista de Hitler - sob acusação de "subversiva" por causa de suas atividades no então clandestino Partido Comunista, a jornalista e escritora Patrícia Galvão (mais conhecida como Pagu) foi retirada da cela e conduzida com outras companheiras à presença do interventor Ademar de Barros, que visitava a prisão na ocasião, mas era conivente com as - e incentivador das - torturas e outras violências praticadas contra os presos políticos. O diretor do presídio exigiu que as prisioneiras, em fila, cumprimentassem a autoridade política. Todas as outras presidiárias cumpriram a ordem, apenas Pagu não estendeu a mão a Ademar de Barros. Quando o diretor do presídio exigiu que ela o obedecesse, Pagu respondeu: "Não dou a mão a carrascos nem a interventores!". E, por isso, foi conduzida à solitária pela desobediência.
Tenho, em Pagu, uma das minhas referências. Escroques que defendem e estimulam a tortura (crime de lesa-humanidade!); que apoiam regimes autoritários e fascistas; que fazem apologia ao estupro de mulheres; que desrespeitam as famílias de pessoas mortas sob torturas em masmorras de ditaduras; que lamentam que intelectuais de esquerda não tenham sido metralhados; que defendem a violência contra crianças e adolescentes; que aplaudem a degola de presidiários; que estimulam a homofobia e outras violências contra homossexuais; e que financiam, com dinheiro público, sórdidas campanhas difamatórias contra adversários políticos, recorrendo à calúnia não merecem que lhes estendamos a mão nem que sentemos ao seu lado onde quer que seja.
Lamento que, neste Dia do Jornalista, o jornalixo dê o tom, abrindo espaço para que escroques piores que Ademar de Barros mintam sobre os motivos de suas vítimas se recusarem a estar ao seu lado.
*RoseliHenriques
*chebola: O filme Pagú com Carla Camuratti é muito bom conta a história.

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