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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 20, 2010

Bonitinha, mas ordinária.

Aparelhamento à moda tucana

Bonitinha, mas ordinária.

Redação Carta Capital


Jornal da Tarde revela que Soninha e ex-parlamentares de partidos que apóiam Serra tiveram ou têm função em empresas estatais de SP

A ex-vereadora e ex-subprefeita da Lapa Soninha Francine (PPS), coordenadora da campanha de José Serra (PSDB) na internet, está na lista de ex-parlamentares de partidos que apoiam Serra que têm cargo acumulado em conselhos administrativos de estatais paulistas. A informação é do Jornal da Tarde publicado nesta quarta-feira 20.

Soninha faz parte do conselho de administração da Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb), apesar de não ter currículo que a gabarite para participar de um conselho de um órgão com este. Soninha nega haver favorecimento político na indicação e diz não ver problema em acumular a função com a coordenação da campanha do tucano José Serra à Presidência.

Além dela, a reportagem do JT aponta que ao menos 10 ex-parlamentares de partidos políticos que apóiam o tucano tiveram ou têm função em empresas estatais de São Paulo como o DEM, PMDB (diretório estadual/SP) e PTB. Segundo o jornal, todos recebem salários entre 3,5 mil reais e 4,4 mil reais que podem chegar a 7 mil e 8,8 mil reais caso ocorra o acúmulo de duas reuniões por mês.

Com Soninha na Cetesb estão os ex-deputados federais Koyu Iha (PSDB-SP) e Ney Lopes de Souza (DEM-RN). Na lista, há ainda seis políticos que já deixaram os conselhos para sair nas eleições como candidatos ou trabalhar nas campanhas. Um deles é Eduardo Graeff, ex-secretário-geral da presidência no governo FHC e tesoureiro do PSDB e um dos principais responsáveis pela articulação da campanha tucana na internet, ocupando o cargo de “auxiliar de comunicação”.

No conselho da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), João Faustino (PSDB-RN), que foi subsecretário da Casa Civil, recebia 3,5 mil reais até julho. Ele também recebia 4,4 mil reais por participar de reuniões do conselho da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). Márcio Fortes (PSDB-RJ), que é um dos arrecadadores da campanha de Serra também esteve no conselho da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa) até março deste ano, quando saiu para ser vice de Fernando Gabeira (PV) na disputa ao governo do Rio de Janeiro.

O governo estadual enviou uma nota por e-mail à reportagem do JT afirmando que não existe loteamento de cargos e diz que “75% dos cargos dos conselhos são ocupados por representantes ligados diretamente ao governo”.

O governo afirma que existem hoje 223 conselheiros em 21 empresas paulistas. Os dados mostram que há 16 secretários de governo ocupando a presidência das estatais, 98 servidores graduados do Executivo, 7 acionistas minoritários, 35 “representantes da sociedade civil com perfil técnico, econômico ou político” e outros.

O preenchimento de cargos em empresas estatais é, como se sabe, um dos principais artifícios – nada éticos, diga-se – usado por governantes para “completar salários” de ocupantes de cargos de confiança, que não passaram por concursos públicos. Aboletados nestes cargos que lhes exige apenas a participação em esporádicas reuniões para fazer jus ao devido “jetom”, os “conselheiros” ganham um atrativo a mais para se “sacrificar pela vida pública”.

Também é usado este expediente para agradar políticos aliados que não puderam ser acomodados em cargos fixos no aparelho de Estado. Para quem tem feito campanha eleitoral acusando diretamente o governo federal de contratar “amigos e companheiros” para inchar a máquina pública, a revelação do JT cai como uma bomba.

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