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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 12, 2010

Um discurso histórico de Obama sobre o uso da Religião nas eleições presidenciais americanas.



*comtextolivre

Quem é o Serra dos debates?

É importante indicar ao eleitor que um eventual governo Serra representará um mergulho nas trevas, com direito a TFPs, Opus Dei, Carismáticos e outras denominações legislando o nascimento de um poder assentado em bases teocráticas. Sobre isso deveria refletir uma parcela da classe média.

- por Gilson Caroni Filho, na Agência Carta Maior

Quando entrou nos estúdios da Rede Bandeirantes para o segundo confronto com Dilma Rousseff, Serra parecia confiante. Afinal, pesquisas recentes indicavam que sua candidatura registrava uma curva ascendente. Amparado pelo confortável clima de terror criado por demotucanos, com auxílio inestimável do oportunismo de grupos religiosos partidários da teologia da prosperidade, "IN NOMINE DEI”, o massacre da adversária era tratado como favas contadas. Mas, como costuma acontecer na luta política, o açodamento voraz aumenta a voltagem de fracassos inesperados.

A adversária se mostrava surpreendentemente bem mais preparada do que no encontro anterior, disparando alguns petardos para os quais o PSDB - e a mídia corporativa que lhe apóia - não encontraria proteção adequada nem mesmo no dia seguinte. Do assessor que fugiu com R$ 4 milhões de campanha a uma possível privatização do pré-sal em um caso de vitória tucana, Serra manteve a fisionomia tensa, perdendo-se nas respostas, sem conseguir esboçar contra-ataques com os detalhes que a televisão exige. O desempenho do personagem preocupou assessores e a base social que lhe dá sustentação.

Quando perguntado sobre fatos provados, respondia com evasivas. Nem mesmo a mulher, Mônica Serra, foi capaz de defender. Foge como o diabo da cruz quando são feitas comparações entre os governos FHC e Lula. Quem tirou 14 milhões da miséria, levou 32 milhões para a classe média, criando 13 milhões de empregos? Que governo fez o Brasil crescer como nunca, libertando o país dos ditames do FMI? Quem proporcionou acesso de um enorme contingente popular às universidades, mudando a fisionomia e as expectativas educacionais de uma formação social marcada pela exclusão? Sob o manto protetor das redações que lhe protegem, Serra é poupado de contraditórios incômodos. Quando exposto ao confronto, sobram o sorriso nervoso e as mãos trêmulas no ar.

Ficou claro, no debate de ontem, que Serra promete coisas sem base e silencia sobre como vai cumpri-las. Chegou o momento de mostrar, às claras, quem é o ex-governador que paga os piores salários do Brasil para os professores e policiais de São Paulo, recusando qualquer possibilidade de diálogo com representantes das duas categorias. Serra envereda pela ficção quando diz que criou os genéricos e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). E mente quando diz que tirou do papel o Seguro-Desemprego.

Nos próximos encontros, Dilma deve mostrar ao país o perigo de ter religiosos fundamentalistas dando palpite na administração pública. Precisa alertar que nas regiões metropolitanas, em comunidades carentes, além da crônica falta do Estado, os poderes conferidos a seitas e outros espertalhões aliados a uma polícia medíocre e corrupta acabam facilitando a vida de milicianos e traficantes. O que faz soar, no mínimo, ridícula a proposta tucana de criação de um Ministério da Segurança.

É importante indicar ao eleitor que um eventual governo Serra representará um mergulho nas trevas, com direito a TFPs, Opus Dei, Carismáticos e outras denominações legislando o nascimento de um poder assentado em bases teocráticas. Sobre isso deveria refletir uma parcela da classe média. Aquela mais apegada ao consumo que à cidadania, sócia despreocupada do rentismo e do poder nos tempos neoliberais.

Acostumada, desde a ditadura militar, à apropriação dos recursos que o mercado ou o Estado lhe ofereciam para a melhoria de seu poder aquisitivo e seu bem-estar material, ainda conserva vícios de origem, reagindo negativamente ao aumento da participação e da inclusão política de novos setores. Instalada em um desencanto abrangente, como estamento arraigado, abriga forças que não ameaçam apenas o processo democrático. O perigo vai bem além. Por tudo que vimos nessa campanha, a candidatura de Serra é incompatível com os valores mais caros à modernidade.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
*tudoemcima

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