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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, dezembro 19, 2010

18 lições para prender colarinho branco. Ou como Dantas poderá escapar





Confio na Justiça do meu país, diria o Maluf
Saiu na Carta Capital desta semana, na pág. 64, artigo exemplar do corajoso Juiz Fausto Martin De Sanctis: “A probidade em 18 lições – os atores públicos devem possuir a exata noção entre o exercício da autoridade e aquele do poder”.

“Um sistema judiciário tímido ou inoperante  torna ineficiente qualquer mecanismo de combate ao crime”.

De Sanctis prendeu Daniel Dantas duas vezes – porque o apanhou no ato de passar bola a um agente federal, numa “ação controlada” por De Sanctis e pelo ínclito delegado Protogenes Queiroz.

(Por falar nisso, o que tem feito o Procurador de Grandis ?)

Como se sabe, o ex-Supremo Presidente Supremo do Supremo, Gilmar Dantas (*), inscreveu-se na Historio do Judiciário deste país ao conceder dois HCs a Dantas no espaço de 48 horas !

De Sanctis oferece aos leitores da Carta Capital dezoito lições para manter Dantas e assemelhados na cadeia.

Por exemplo,  reforçar a liberdade de imprensa, a delação premiada, a ação controlada e o grampo legal; acabar com o foro privilegiado do Maluf (PHA); ampliar a responsabilidade penal do criminoso do colarinho branco; exigir a identidade completa de investidores em empresas no exterior e a identificação de socios de empresas offshore; estabelecer critérios para a nomeação de ministros e conselheiros dos tribunais de contas superiores e membros o ministério público; tirar a Policia Federal das mãos do Luiz Fernando de Souza (PHA; quer dizer, dar a ela independência funcional e administrativa, como a do  Dr Paulo Lacerda (PHA).

Tudo muito bom.

Poderia ser, por exemplo, a agenda de trabalho do ínclito delegado Protogenes Queiroz, agora deputado federal diplomado (para desespero do Corrêa).

Só que …

Navalha
A Justiça Federal de São Paulo conseguiu suspender as investigações da Operação Satiagraha por um ano e dois meses.
Tudo parado.
Uma delícia, para o Daniel Dantas.
Uma juíza queria tirar a Satiagraha do De Sanctis.
O TRF-3 levou um ano para julgar a pretensão extravagante.
Por maioria esmagadora, devolveu a Satiagraha ao De Sanctis.
Quer dizer, devolveu, mas …
Devolveu duas semanas antes de De Sanctis ser “promovido”.
De Sanctis foi promovido a Desembargador para cuidar dos velhinhos.
Dos litígios dos pensionistas da Previdência.
Viva o Brasil !
Agora, vai ser preciso recomeçar as investigações da Satiagraha.
Duas estão “paradas”.
A que permitiu a criação da P-36 do Governo Lula, a BrOi.
E a que trata das fazendas/mineradoras do Dantas.
A questão toda se resume a uma pergunta elementar.
O Dantas vai ficar feliz com o substituto do De Sanctis ou vai ficar triste ?
Só no Brasil um passador de bola apanhado no ato de passar bola pode ter o direito de escolher quem deve julgá-lo.
Viva !


Em tempo: o presidente Lula prometeu concluir a investigação sobre Daniel Dantas antes de deixar o Governo.


Paulo Henrique Amorim

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