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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 22, 2010

A última vez (por enquanto)




O último pronunciamento que Lula fará à nação, amanhã, será cheio de emoção e de recados. "Saio do governo para viver a vida das ruas", diz ele. "Homem do povo que sempre fui, serei mais povo do que nunca, sem renegar meu destino e jamais fugir da luta." "Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado. Onde houver uma mãe e um pai com desesperança, quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto. Vivi no coração do povo e nele quero continuar vivendo até o último dos meus dias."

Lula diz ainda que governou "bem" por ter berço pobre, se sentir como um cidadão comum e por conseguir se "livrar da maldição elitista" que governava para poucos e se esquecia "da maioria do seu povo, que parecia condenada à miséria e ao abandono eternos". Encerra com um "pedido enfático" para que "todos apoiem a nova presidenta, assim como me apoiaram em todos os momentos".
*osamigosdopresidenteLula
 

Atendendo a pedidos dos amigos leitores, segue o vídeo com trechos da homenagem e do discurso do presidente no show "Obrigado, Lula", no Rio de Janeiro.

O local não poderia ser melhor: na praça da Apoteose, do sambódromo do Rio. O nome da praça, dado por Darcy Ribeiro, foi simbolizando o fim do desfile das escolas de samba acabar em uma apoteose. Pois o governo Lula também está terminando em apoteose. 

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