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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 17, 2011

A grande mídia como organização criminosa

 

Caso Murdoch: o controle da sociedade pela mídia 

Com a detenção da ex-editora do News of the World, Rebekah Brooks, neste domingo,em Londres, já são oito jornalistas do grupo Murdoch recolhidos à prisão de Londres. Todos associados ao crime de corrupção e interceptação de comunicações de um amplo universo de mas de 4 mil pessoas, incluindo-se celebridade, políticos e cidadãos comuns.

Nos EUA, o FBI começa esta semana a investigar denúncias de espionagem de veículos do grupo Murdoch, proprietário, entre outros, da rede Fox News e do Wall Street Jounal, além da Business Week. O braço norte-americano das investigações poderá desnudar as ligações políticas e operacionais entre a extrema direita republicana e o canal Fox News, dirigido pelo ex-assessor de imprensa de Nixon e Bush (pai), Roger Ailes. Nos anos 70, Ailes foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Na presidência da Fox, Ailes notabilizou-se por demonstrar na prática ‘como colocar o Tea Party na agenda da mídia'.

A manipulação grosseira dos fatos e o ódio racista banalizado através do noticiário da Fox animou, digamos assim, setores mais obscurantistas da classe média americana a associarem Obama ao comunismo, ademais de colocarem em dúvida a nacionalidade americana do democrata.

Na esfera econômica, a contrapartida desse jornalismo que se notabiliza por combates idéias e defender interesses destruindo reputações e alvejando biografias, é o atual extremismo orçamentário republicano. Aqui, o que se pretende é imobilizar Obama impondo-lhe uma agenda de cortes em gastos sociais em plena campanha presidencial de 2012.

A mídia brasileira tem optado por uma abordagem no mínimo insuficiente -para dizê-lo com indulgência-- dos desdobramentos que o escândalo do ‘News of the World' coloca no tocante às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à informação.

Diz Bernardo Kuscinski, que introduziu a crítica política da mídia no país, em comentário sobre o artigo do historiador Timothy Ash, publicado hoje no Estadão: "o artigo de Ash aponta para a profundidade e a gravidade do que se passa na democracia inglesa, que virou refém do Murdoch e da grande midia." Em resumo, a elite britânica e todas as pessoas de perfil público viviam em estado de medo da mídia. (Ash) compara esse medo ao vivido na Rússia. É a grande mídia agindo como organização criminosa. Há algo de parecido no comportamento de VEJA.... (sintomático, ainda) o olho escolhido pelo Estadão, que não reflete o principal do artigo..."

*cartamaior

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