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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 10, 2011

Impasse na dívida dos EUA vira centro das atenções

Obama, entre o corte nos impostos, exigido pelos republicanos, e o aumento de gastos sociais que foi sua bandeira eleitoral
É claro que os republicanos vão concordar com o aumento do teto de endividamento do Tesouro norte-americano, que estourou o limite legal de US$ 14, 3 trilhão, oequivalente a 95% do PIB do país.  Mas vão “esticar a corda” até às vésperas do prazo fatal de 2 de agosto, quando os Estados Unidos, tecnicamente, entrariam em moratória, sendo incapazes de honrar seus compromissos financeiros.
Tanbto Obama quanto os republicanos menos hostis a ele estão sob “fogo amigo”. De um lado, boa parte dos democratas torce o nariz para cortes nos gastos sociais; de outro, parte dosrepublicanos acha que é hora de fazer Obama recuar dos impostos adotados desde o início de seu governo para realiza-los.
Amos os lados jogam de olho nas eleições do ano que vem. Mas neste tabuleiro se joga também o impensável na economia mundial: o núcleo referencial do dinheiro – o Tesouro dos EUA – entrar em estado crítico, pré-explosivo.
Hoje, a nova diretora-geral do FMI, a francesa Christine Lagarde, entrou no círculo de pressões políticas por um acordo orçamentário nos EUA, em entrevista a uma emissorade TV americana, dizendo que um calote americano teria  “consequências bastante devastadoras para a economia global” e que ela “não conseguia pensar nem por um segundo”  no que resultaria disso.
Lagarde entrou no mesmo diapasão do discurso de Obama, depois que  John Boehner, o republicano que preside a Câmara dos Representantes, rejeitouabandonou provisoriamente as negociações  com a Casa Branca. Num caso raro de manifestação sobre as decisões do legislativo americano, disse esperar que ” exista inteligência e compreensão suficiente nos dois partidos sobre o desafio que é colocado em frente não só dos Estados Unidos, mas de todo o mundo”.
Não é nada que comova a opinião pública americana, pouco afeita a dar importância ao que o resto do mundo pensa do que eles fazem.
Ainda resta uma pequena margem de manobra nessa caminhada à beira do precipício econômico e nesta estreita margem vai continuar a se dançar o balé – às vezes nada sutil – do processo eleitoral americano e este é um embate entre a necessidade de programas sociais num país cada vez mais vitimado pelo desemprego que se torna crônico e o empobrecimento de setores cada vez mais largos da população e um país onde o corte de impostos está na ideologia dominantes quase como um retrato do paraíso.
O dos ricos, claro.
*Tijolaço

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