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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 07, 2011

O lado do Irã que a mídia não mostra

 

A “superioridade” com que o Ocidente trata as culturas islâmicas faz, muitas vezes, serem esquecidas as dificuldades que governantes que procuram modernizar aqueles países. E que sejam vistos, eles próprios, como conservadores, porque têm de aceitar um pouco para poderem mudar muito.
Claro que ninguém é favorável às restrições de direitos das mulheres – à nenhuma, em nenhuma cultura, religião ou sociedade – mas, muitas vezes, os processos são mais complexos do que parecem.
Uma matéria de hoje na Reuters, que não terá grande repercussão na mídia brasileira, mostra o contrário do que normalmente se percebe sobre o Irã.
Mostra o presidente Mahmoud Ahmadinejad sob uma tempestade de críticas do clero por se opor à separação dos sexos nas salas de aula das univesidades iranianas.
“Foi dito que, em algumas universidades, as aulas e disciplinas estão sendo segregadas, sem levar em conta as coincidências. São necessárias ações urgentes para impedir essas ações superficiais e não acadêmicas”, disse ele em seu site.
A isso, reagiu o mais importante clérigo iraniano, Ahmad Khatami: “Com que lógica o reitor de uma universidade de Teerã deveria ser repreendido por separar as classes entre homens e mulheres? Deveríamos (era)  lhe dar uma medalha.”
Se fosse o inverso,  Ahmadinejad estaria sendo apontado como um “monstro” em todos os jornais. E iria ser lembrado que a universidade foi um dos centros de manifestão do tal “mivimento verde” , de oposição a ele.
Ontem, no relatório sobre a condição feminina, a ONU lembrou que, há um século, apenas dois países davam à mulher o direito de voto.
Ainda há muito a conquistar em matéria de igualdade de direitos entre os gêneros e isso é um combate que não pode esmorecer. Nem mesmo nas críticas que se faz à desigualdade que se pratica em nome de culturas ancestrais.O Governo brasileiro, com Lula ou com Dilma, jamais deixou de protestar contra situações desumanas no Irã. O que é muito diferente de contestar a vontade eleitoral do povo iraniano, que elegeu Ahmadinejad.
Mas sempre deve se ter em vista que, se exige firmeza, esta luta também exige compreensão de que as mudanças culturais não se impõem a ferro e fogo, com uma “ocidentalização”  forçada, que, como numa Cruzada,  leve à fogueira todos que não se “convertam” a ela.
A ditadura do Xá Reza Pahlevi era “moderna”. E brutal, repressiva, excludente e entreguista. Desconsiderou os valores de seu povo e, afinal, fez com que eles ressurgissem odiando a “modernidade” até naquilo que ela tem de bom, justo e igualitário.
Quando queremos combater o preconceito cultural, o simplismo é sempre o primeiro inimigo a vencer. Porque ele leva também, por superficial, ao preconceito.
 *tijolaço

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