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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 17, 2012


Grécia: direita pró-euro vence e propõe governo de 'união nacional'
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ATENAS, Grécia, 17 Jun 2012 (AFP) -O partido de direita Nova Democracia venceu as eleições legislativas deste domingo na Grécia e propôs um "governo de união nacional" para sair da crise econômica e manter o país na zona do euro.
O líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, pediu a "todas as forças políticas que se unam em torno do objetivo de manter o país no euro (...) formando um governo de união nacional". A Grécia "não pode perder mais um minuto".
O chefe da esquerda radical, Alexis Tsipras, admitiu a derrota e negou a participação do seu grupo no eventual governo de união nacional.
"Telefonei a Samaras para lhe cumprimentar, ele pode formar um governo", disse Tsipras, cujo partido chegou na segunda posição neste domingo. "Vamos ficar na oposição e representar a maioria do povo contra o memorando" de rigor fiscal imposto por UE-FMI.
Já o líder dos socialistas do Pasok, Evangélos Vénizélos, condicionou a participação do seu partido em um governo de união nacional a uma presença ampla da esquerda, incluindo os radicais de Tsipras.
"Um governo de responsabilidade nacional supõe a participação de todas as forças da esquerda", incluindo os radicais do Syriza.
Após a apuração de 85% das urnas, os conservadores da Nova Democracia obtinham 29,96% dos votos, garantindo 130 das 300 cadeiras do Parlamento. A esquerda radical no partido Syriza chegava na segunda posição, com 26,65% e 71 cadeiras, e os socialistas do Pasok apareciam em terceiro, com 12,46% dos votos e 33 cadeiras.
A diferença entre o percentual de votos e o número de cadeiras se deve ao fato de que a Constituição grega atribui 50 cadeiras suplementares ao partido vencedor das eleições.
As eleições deste domingo foram polarizadas entre a Nova Democracia, sob a promessa de "sair da crise, mas não do euro", e a esquerda radical, que exige a renegociação do pacto de austeridade, após defender seu abandono total.
A dirigente da direita Dora Bakoyannis foi a primeira a proclamar a vitória da Nova Democracia: "somos o primeiro e chegou a hora de formar um governo de união nacional para sair da crise".
A Nova Democracia afirma ser o "fiador" da permanência da Grécia na zona do euro, mas quer "renegociar" o memorando do plano de ajuste acertado com União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).
O memorando permitiu ao país obter um socorro financeiro para evitar a falência.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, reagiu aos resultados afirmando que seu país está disposto a discutir os prazos necessários para a aplicação das reformas na Grécia.
"Não deve haver mudança substancial nos compromissos" assumidos pela Grécia com seu programa de reformas, mas "posso imaginar, sem problemas, uma negociação sobre novos prazos".
Para justificar esta flexibilidade, o ministro destacou que a Grécia viveu "uma paralisia política nas últimas semanas devido às eleições". "Os cidadãos comuns não podem ser punidos, especialmente porque já suportaram cortes drásticos".
"Estamos dispostos a assumir a solidariedade na Europa, mas não podemos aceitar a anulação dos compromissos assumidos".
Até o momento, o governo alemão se manteve inflexível sobre o programa de reformas negociado por Atenas com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca do socorro financeiro, tanto em relação ao conteúdo quanto aos prazos decretados.
A chanceler alemã, Angela Merkel, telefonou para Antonis Samaras para cumprimentá-lo "pelo bom resultado nas eleições (...) e declarou que parte do princípio de que a Grécia respeitará seus compromissos europeus", informou um comunicado do serviço de imprensa em Berlim.
O ministro belga das Relações Exteriores, Didier Reynders, foi no mesmo sentido ao destacar que "existe a possibilidade de diálogo" sobre a revisão dos prazos, mas "não queremos dar um cheque em branco" à Grécia.
"A Europa está aberta ao diálogo com a Grécia (...). Sempre é melhor ter pela frente gente que deseja negociar".
Os presidentes da UE e da Comissão Europeia, Herman Van Rompuy e José Manuel Barroso, esperam "a rápida formação de um novo governo na Grécia" que coloque o país no caminho do crescimento e cumpra com o plano de austeridade acertado com Bruxelas.
"Continuaremos apoiando a Grécia como membro da família UE e da zona euro. Estamos dispostos a manter nossa assistência". "O segundo programa de ajuste econômico acertado é a base sobre a qual vamos construir para favorecer o crescimento, a prosperidade e o emprego para o povo grego", destacaram Van Rompuy e Barroso em um comunicado conjunto.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) assinalou sua disposição de trabalhar com o novo governo grego para "ajudar a Grécia a atingir seu objetivo de restaurar a estabilidade financeira, o crescimento econômico e o emprego".
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, destacou a vitória de Samaras e disse que o presidente americano, Barack Obama, acredita que é do interesse do todos que a Grécia permaneça na zona do euro.
"Felicitamos o povo grego pela condução das eleições neste momento difícil (...) e esperamos que levem rapidamente à formação de um novo governo que possa enfrentar os desafios econômicos".
*Terra

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