Navio do Brasil grava 320 invasões aéreas de Israel no Líbano
Via BBC Brasil
Luis Kawaguti
A fragata Liberal substituiu a fragata União na missão de paz no Líbano em maio
O
navio de guerra brasileiro da missão de paz da ONU no Líbano registrou
320 invasões do espaço aéreo libanês por aviões militares de Israel nos
últimos seis meses.
Segundo a diplomacia
israelense, os voos têm caráter defensivo. Seu objetivo seria coletar
informações sobre supostos foguetes do Hezbollah que poderiam atingir
Israel.
Contudo, esses voos militares violam a
resolução do Conselho de Segurança da ONU que estabeleceu um cessar-fogo
entre Israel e o Hezbollah em 2006 e proíbe forças armadas estrangeiras
de entrar no Líbano sem autorização do governo.
As
320 invasões aconteceram entre novembro de 2011 e maio de 2012, segundo
o contra-almirante Wagner Lopes de Moraes Zamith, comandante da Força
Tarefa Naval da ONU . Em média, elas representam mais de 12 invasões por
semana.
Os voos suspeitos foram registrados
pelo radar da fragata brasileira "União" e também gravados em imagens
pela tripulação. Foram flagrados principalmente aviões de caça, de
reabastecimento e "drones" - os aviões militares não tripulados.
"As
violações de espaço aéreo são frequentes. Nosso navio tem capacidade de
detectar essa atividade aérea. Inclusive isso é uma atividade
subsidiária nossa que é muito bem-vinda pela Unifil (missão de paz da
ONU no Líbano)", afirmou Zamith à BBC Brasil.
Radares
Os
sobrevoos irregulares de Israel sobre áreas libanesas acontecem ao
menos desde a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano em 2000.
Eles
são registrados pela ONU por meio de um radar terrestre instalado no
quartel general da Unifil em Naqoura, no norte do país.
Porém, segundo Zamith, o equipamento não tem alcance adequado para monitorar a região próxima à fronteira com Israel.
O
posicionamento da fragata brasileira durante missões no litoral sul do
Líbano desde o fim do ano passado ampliou a capacidade de detecção da
missão e possibilitou o atual registro de flagrantes.
Reação
Avião israelense de reabastecimento e carga, Hércules C-130, sobrevoa Hebron
Depois
de captadas, as informações sobre os voos suspeitos são analisadas pela
Unifil - que verifica se de fato houve violação do espaço aéreo.
Em
seguida, a missão faz protestos formais ao Conselho de Segurança da
ONU, exigindo que as IDF (Forças de Defesa de Israel) parem com os
abusos.
"Esses voos violam a resolução 1701 do
Conselho de Segurança da ONU. Eles estão minando nossa credibilidade
junto à população do sul do Líbano", afirmou à BBC Brasil Andrea
Tenenti, o porta-voz da Unifil.
Segundo ele, a
ação diplomática é a única reação possível da Unifil, pois seu mandato
não permite o uso da força para impedir as violações israelenses - a
menos em caso de ataque a capacetes azuis.
A
Força Tarefa Naval da ONU existe desde 2006. Desde que o Brasil assumiu o
comando da frota no ano passado, um único incidente envolvendo forças
navais das Nações Unidas e aviões de Israel foi registrado, em 2011.
Um
caça israelense invadiu o espaço aéreo libanês e sobrevoou um navio de
guerra da esquadra internacional. Na linguagem naval, esse tipo de ação é
considerada atitude hostil.
A ONU entrou em contato com Israel e o caso foi tratado como um mal-entendido.
Defesa de Israel
Segundo
o diplomata Alon Lavi, porta-voz da embaixada israelense no Brasil, foi
o Hezbollah quem violou a resolução do Conselho de Segurança da ONU com
violência praticada dentro do Líbano.
Segundo
ele, Israel teria informações de inteligência segundo as quais o grupo
extremista xiita estaria estocando foguetes em áreas libanesas.
Outro motivo para os voos seriam "ameaças abertas" feitas por líderes do Hezbollah de atacar cidades israelenses.
"Israel
tem a obrigação de obter informações de inteligência sobre esses
foguetes porque eles estão apontados para a nossa população de novo",
disse.
"É por isso que Israel tem feito voos no
espaço aéreo do Libano, mas não temos propósitos ofensivos. A prova
disso é que nenhum lugar no Líbano foi ameaçado ou atacado", disse.
Segundo
ele, apesar de não haver registro de ataques recentes do Hezbollah, os
voos israelenses continuam acontecendo com o caráter de monitoração.
Já
para o diplomata Jimmy Douaihy, encarregado da embaixada libanesa, os
voos violam a soberania do Líbano. Segundo ele, não há sentido na
afirmação de que eles ocorrem em defesa contra o Hezbollah.
"Há tropas das Nações Unidas lá (sul do Líbano). Eles é que monitoram a área e não levantaram esse tipo de atividade", afirmou.
Ele
também afirmou que as violações da soberania libanesa por Israel
ocorreriam também pelas fronteiras terrestre e marítima. "Desde 2006
foram mais de 10 mil violações. Acontece quase todo dia. Já apresentamos
várias queixas ao Conselho de Segurança (da ONU)", disse.
Ciclos
O
contra-almirante Zamith afirmou que os voos israelenses têm
características de ações de reconhecimento. Segundo ele, a atividade
israelense no espaço aéreo libanês varia de acordo com a conjuntura
política da região.
"As situações aqui são
cíclicas, às vezes pioram e às vezes melhoram. Obviamente, nos momentos
em que a situação do entorno regional se agrava, a tendência é que essas
atividades aéreas também aumentem proporcionalmente", disse.
Lavi
afirmou, por sua vez, que a relação entre as forças de Israel e os
militares brasileiros atuando no Líbano é "muito boa e próxima".
*GilsonSampaio
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