Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 19, 2012

Prag(a)matismo exacerbado

Na política as escolhas não tem lógica, nem coerência e muito menos ideologia. O Merval Pereira, por exemplo, escolheu ficar ao lado do patrão, aquele que escreveu editorial saudando a chegada da ditadura. Isto não o incomoda. Roberto Marinho & famiglia continuam escrevendo editoriais anti-democráticos. E Merval continua sendo um arlequim de dois patrões. É o mesmo Merval que não recusou o voto de José Sarney para chegar a Academia Brasileira de Letras. Assim como a famiglia Marinho viu na ditadura uma forma de crescer, Merval viu em Sarney uma chance de chegar à ABL. Uma biograia bonsai de Merval foi escrita por seu ex-colega, Paulo Nogueira: Merval, o Imortal.
Agora vamos às razões que levaram Haddad em oPTar pelo apoio do PP de Paulo Maluf. São muitas e todas, pragmaticamente falando, de ordem política.
1) o paulistano gosta de corrupto, não é por outra razão que votavam em Ademar de Barros, Quércia, Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra, FHC, Kassab & Alchmin;
2) os grupos de mídia concentrados em São Paulo são altamente conservadores e adora corruptos. Apoiaram a ditadura, como o Grupo Folha, emprestando carros àquela que ousa, inclusive, chamar de ditabranda. O Estadão não via nenhum problema em ter Pimenta Neves como chefe de Redação até o momento em que assassinou Sandra Gomide. O Grupo Abril, que edita a VEJA, não tem nenhum problema, antes pelo contrário, de manter relações carnais com Carlinhos Cachoeira…
3) o povo continua tv dependente. Acredita em tudo o que a tv vende. Não é por outro motivo que continuam acreditando nas papagaiadas da Rede Globo e suas filiadas, incluindo a RBS. Com os 95 segundos do PP o marqueteiro do PT pretende virar o jogo. O PP de São Paulo é o mesmo PP que fez aliança com Manuela D’Ávila em Porto Alegre. Ninguém criticou a empregada da RBS, Ana Amélia Lemos, quando esta defendia o PP de seu padrinho, Pratini de Moraes, durante os programas ditos jornalísticos da RBS. Nem agora quando ela e seu PP se aliam ao PCdoB para a prefeitura de Porto Alegre. Aliás, o PP já é aliado do Governo Federal.
4) Se temos um eleitorado conservador, um grupo de mídia conservador, um mega corrupto do outro lado, sempre inocentado pela justiça, concorrendo com o apoio de todos estes, o que fazer? Bem o PT optou por ganhar um pouco mais de tempo de mídia e o apoio do eleitorado que sempre elegeu Maluf. Serra, que criticou o PR quando este estava no Governo Dilma, fez aliança com eles. Claro. Serra concorre com o PT, não com o PR…
5) Se toda direita e os grupos de mafiomidiáticos está contra a aliança com o PP do Maluf é porque isso os incomoda. Ninguém diria nada se a aliança fosse com José Serra, não é mesmo.
6) o poder judiciário, que sempre inocentou Maluf, de alguma forma avaliza a união. Como diria o pragmatismo rastaquera do Lula, alianças se faz com a oposição que está fora da cadeia, não com a situação. A VEJA fez aliança com Carlinhos Cachoeira enquanto estava solto. Agora que está na prisão, quer se afastar. Nenhum membro do PIG criticou a aliança de Roberto Civita com Carlinhos Cachoeira.
7) Maluf cunhou o verbo malufar e o PT resolveu malufar na frente das crianças, em horário nobre. O resultado disso poderá ser mortal para o PT. Se der certo, será mais um troféu do Lula.
8) se a Globo, Folha, Estadão, Veja, RBS, FHC e Serra são contra, então é um bom sinal de que não é tão ruim assim. Aliás, como declarou o novo “amigo” do PT paulistano, Paulo Maluf: “FHC comprou votos para aprovar reeleição” e disso não só ninguém fala como ainda lhe abrem as portas;
9) A aliança é com o PP de Maluf. Maluf não concorrerá. Então, a presença de Maluf fica apenas para no imaginário.
10) Eu jamais faria aliança como o Maluf. Assim como nunca estaria do mesmo lado da RBS, do Gilmar Mendes, da Revista Veja, da Rede Globo, do Merval. Eu não sou candidato a nada!

Os requintes de crueldade da aliança de Lula e Maluf 

Colunista do Globo, Merval Pereira diz que apoio a Haddad não tem nada de inusitado, "a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal"
Em seu artigo no jornal O Globo de hoje, Merval Pereira relembra apoio de Maluf à Marta Suplicy em 2004 e diz que aproximação com Haddad não tem nada de inusitado, "a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal". Leia:

Requintes de crueldade

Merval Pereira
Fazer com que Lula fosse visitá-lo em sua casa para selar publicamente o acordo político de apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo é o ponto de destaque, com requintes de crueldade, dessa aliança, que de inusitada não tem nada, a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal, podendo fazer qualquer coisa para vencer eleições.
Em 2004, Maluf já apoiara Marta Suplicy no segundo turno contra Serra, mas naquela ocasião ele disse que o fazia sem ter tido contato nem com Lula nem com Marta, reafirmando suas divergências com o PT.
Desta vez foi diferente. Além de ganhar para um indicado seu uma secretaria do Ministério das Cidades, um Maluf radiante recebeu Lula e Haddad em sua casa, destacando o "sacrifício" que o ex-presidente fizera indo até lá, apesar das cautelas médicas devido à sua recuperação da cirurgia de câncer.
Pelo menos o conselho de evitar falar em público ajudou Lula a sair de cena sem ter que justificar tal aliança.
A senadora Marta Suplicy, que aceitara de bom grado o apoio envergonhado de Maluf em 2004, hoje, rejeitada por ser uma alternativa política "velha", de acordo com Lula, diz que a aliança com Maluf é "pesadelo" maior do que a com o prefeito Gilberto Kassab, que ela também rejeitara.
O maior problema, porém, para a candidatura petista é a reação da candidata a vice Luiza Erundina, que de incomodada com o pragmatismo petista, mas engolindo a seco a aliança, passou a rejeitá-la publicamente, convencida de que ela não será apenas uma união política "para constar", diante da pose de Lula carrancudo com Maluf sorridente, tendo o "rapaz esforçado" Fernando Haddad no centro.
O acordo político com Maluf conseguiu ofuscar a boa notícia que a nova pesquisa Datafolha trouxe para a campanha petista.
Ter quase triplicado o apoio depois de algumas aparições ao lado de Lula e da presidente Dilma na televisão indicava que Haddad pode ter a esperança de vir a ser adotado pelo eleitorado petista conforme a campanha progredir, o que lhe daria um patamar mínimo de 30% dos votos para competir com o tucano José Serra.
Mas aliança tão formal e explícita com o grupo de Maluf está reforçando as críticas do grupo de Marta Suplicy dentro do PT e abriu uma divergência séria no PSB, que pelo visto terá que buscar outro candidato a vice para Haddad.
A ex-prefeita Luiza Erundina não parece ser do tipo que abre mão de suas convicções, mesmo que sejam ultrapassadas como o socialismo que ainda prega.
Sua presença na chapa petista levava a candidatura Haddad mais para a esquerda do que seria desejável numa capital que tem a tradição de votar ao centro, quando não à direita.
O próximo ataque especulativo de Lula será em cima do PMDB se a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita permanecer estacionada abaixo dos dois dígitos e menor do que a de Haddad.
O PMDB queria usar a disputa paulistana para vender caro seu apoio ao PT num segundo turno, ou até mesmo ter Chalita como o candidato oficial num segundo turno contra Serra.
Tudo para neutralizar o ataque que o PSB vem orquestrando, com o objetivo de tomar o seu lugar como principal partido da base aliada, abrindo caminho para o governador Eduardo Campos ser o vice de Dilma em 2014.
Ou, conforme os ventos da economia, surgir como uma alternativa ao próprio PT.
O maior receio do PMDB é que, após a eleição, o PSB se una ao PSD de Kassab para formar o maior partido no Congresso.
Isso só não acontecerá, aliás, se o tucano José Serra vencer a eleição paulistana, o que coloca mais um pouco de incoerência nessa armação partidária onde ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo, dependendo da ocasião.
O PSD de Kassab iria para a aliança de Haddad se Serra não fosse o candidato tucano, e Maluf iria para a base serrista se o PSDB aceitasse pagar o alto preço que o PT pagou.
Esse imbróglio paulistano não é, no entanto, o único empecilho à aliança do PT com o PSB, que está se organizando nacionalmente para se colocar como protagonista na cena política em 2014.
Assim como a disputa pela prefeitura em São Paulo está intimamente ligada à sucessão presidencial de 2014, com os dois partidos querendo fortalecer suas posições no maior colégio eleitoral do país, algumas outras capitais também definem agora disputas políticas que serão fundamentais para a campanha à reeleição da presidente Dilma e para o PSDB.
Em Fortaleza e Recife, PT e PSB não conseguiram se entender até o momento, e tudo indica que sairão separados na disputa regional.
Em Salvador, ACM Neto, do DEM, com o apoio do PSDB, pode fazer ressurgir a força carlista na capital baiana.
Em Manaus, uma aliança entre Amazonino Mendes e Arthur Virgílio pode dar ao ex-senador tucano as condições políticas para disputar a prefeitura de Manaus, o que está preocupando a base aliada governista, à frente o ex-governador Eduardo Braga.
Líder do governo no Senado em substituição ao eterno líder de qualquer governo Romero Jucá, Braga vem sofrendo ataques do grupo de senadores como Sarney, Calheiros e o próprio Jucá, que aparentemente a presidente Dilma quer ver fora do centro de decisões.
Se tiver que concorrer a prefeito para unir a base governista contra a oposição, Braga corre o risco de perder o cargo no Senado, embora considere que pode acumular a candidatura com a liderança do governo.
Além do jogo de poder visando à eleição presidencial, há ainda em disputa as presidências da Câmara e do Senado.
O grupo do senador Sarney quer manter o controle do Senado mesmo depois que ele sair, e dois nomes aparecem na disputa no PMDB, a maior bancada: Edison Lobão e Renan Calheiros, o que aparentemente não agrada a Dilma, que gostaria de um nome novo de sua confiança.
Na Câmara, a vez seria do PMDB, mas o candidato preferencial do partido, o líder Henrique Eduardo Alves, desgastou-se com a presidente Dilma.
Um eventual acordo em São Paulo pode colocar em discussão a sucessão na Câmara, e o vice-presidente Michel Temer deverá ser o fiador.
Como se vê, há muito mais do que política municipal em disputa nas próximas eleições.
No Ficha Corrida e 247
*comtextolivre

Nenhum comentário:

Postar um comentário