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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 03, 2014



Renúncia do rei da Espanha fortalece a luta pela terceira república

A10325768_702858716441510_4890449035583358972_n notícia pegou a todos de surpresa. A ressaca eleitoral ainda seguia dando o que falar às elites políticas enquanto um dos partidos da oligarquia, o PSOE, se debate na realização de um Congresso Extraordinário e um processo de eleições primárias para estancar a sangria de votos. Tudo parece indicar que o regime formado sobre a constituição de 1978 vai desmoronando em um ritmo frenético.
O 22 de março é um marco,quando centenas de milhares de pessoas inundaram as ruas de Madri no acontecimento político mais importante para a esquerda de nosso país nos últimos anos:  as marchas da Dignidade; Colunas de trabalhadoras e trabalhadores, vindos de todos os rincões da Espanha, confluíram na capital. A unidade popular foi construída em torno das demandas de Pão, Teto e Trabalho. Um inimigo estava identificado, o regime.
Um dia depois, morria Adolfo Suárez, pai da Transição e um dos protagonistas (junto com Juan Carlos I) da consolidação do novo Estado saído do franquismo: uma monarquia parlamentar com uma democracia de baixa intensidade, que deixava assegurado o poder da oligarquia espanhola. Todos os burgueses fizeram fila ante o cadáver de Suárez em uma encenação a qual ninguém mais acreditava. A farsa do regime ficava evidente ante milhões de cidadãos.
Por último, as eleições europeias significaram um duro golpe nas aspirações da oligarquia. Seus partidos, PP e PSOE, já não somam nem a metade dos votos, fato inédito desde o início desta monarquia parlamentar. Além do que, as forças da esquerda e do campo popular irromperam com uma grande percentagem dos votos, abrindo caminho para um futuro eleitoral exitoso para as organizações democráticas e progressistas. Da mesma maneira, os partidos soberanistas se impuseram na Catalunha (Barcelona) e no país Basco (Euskadi), dinamitando o debate territorial.
Após a renúncia do rei, as pessoas perguntam: o que vem depois? É evidente que estamos diante de um momento de exceção no país. Os consensos políticos que durante mais de 30 anos imperaram na Espanha ficaram caducos. As vozes que exigem mudanças se tornaram um clamor. No entanto, devemos estar prevenidos e evitar um possível passo em falso. Não podemos permitir uma segunda transição que passe pela nomeação de Felipe VI como rei da Espanha, nem tampouco da formação de uma grande coalizão entre as forças políticas do regime que dê uma saída ao colapso, possibilidade mais que real após as declarações dos dirigentes do PP e do PSOE.
É a hora do povo e da classe trabalhadora. Só com a unidade poderemos dar um golpe definitivo e derrubar o regime. É o momento de abrir um processo constituinte onde seja possível mudar tudo: a forma do Estado, o modelo territorial, o avanço dos direitos democráticos, o sistema econômico. Em definitivo, é o momento de decidir nosso futuro.
A Terceira República se aproxima: Depende de nós que se converta em um grito unânime!
Tomado de Juventude Comunista Marxista-leninista

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