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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 29, 2014

Ataque a abrigo da ONU em Gaza mata crianças, mulheres e funcionários das Nações Unidas


Secretário-geral da ONU condenou veementemente ação e informou que as Nações Unidas estão buscando cessar-fogo. Ele pediu respeito ao direito internacional.
Crianças de 6 anos de idade em Gaza estão passando por seu terceiro conflito, com enormes impactos psicossociais. Foto: UNRWA
Crianças de 6 anos de idade em Gaza estão passando por seu terceiro conflito, com enormes impactos psicossociais. Foto: UNRWA
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta quinta-feira (24) estar “estarrecido” com a notícia de um ataque a uma escola de uma agência da ONU no norte de Gaza, onde centenas de pessoas haviam se abrigado.
Segundo os relatos da imprensa, o ataque do governo de Israel contra a instalação da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) em Beit Hanoun, no norte de Gaza, matou pelo menos 15 pessoas e deixou pelo menos 200 feridas.
Havia centenas de deslocados no abrigo na ocasião. Um fotógrafo da imprensa internacional que estava no local disse que havia “poças de sangue no chão e nas mesas dos alunos e no pátio da escola”. Esta foi a quarta vez que uma instalação da ONU foi atingida desde o início das hostilidades. Dezenas de outras instalações das Nações Unidas foram danificadas pelos bombardeios israelenses.
“Muitos foram mortos, incluindo mulheres, crianças e funcionários da ONU. As circunstâncias ainda não estão claras. Condeno veementemente este ato”, afirmou o chefe da ONU em nota.
O porta-voz da UNRWA, Chris Gunness, confirmou em seu Twitter o ataque. “Coordenadas precisas do abrigo da UNRWA em Beit Hanoun foram formalmente dados para o Exército de Israel. No curso do dia, a UNRWA tentou coordenar com o Exército israelense uma janela para que civis deixassem o local, mas isso não foi concedido”, disse.
Ban Ki-moon afirmou que, durante todo o dia, a ONU estava tentando coordenar uma pausa humanitária nas hostilidades para que civis pudessem ser evacuados. “Quero expressar os meus profundos pêsames às famílias das vítimas e as de tantas centenas de habitantes de Gaza inocentes que foram tragicamente mortos como resultado do ataque massivo israelense”, disse Ban Ki-moon.
Respeito ao direito internacional
No início desta semana, durante reunião no Conselho de Segurança da ONU e falando por videoconferência de Ramallah, Ban havia condenado o lançamento de foguetes pelo Hamas e apelado a Israel para ter um cuidado particular para evitar qualquer ataque a instalações das Nações Unidas em que os civis se refugiaram.
“Eu mais uma vez ressalto a todos os lados que eles devem cumprir as suas obrigações sob o direito internacional humanitário de respeitar a santidade da vida civil, a inviolabilidade das instalações da ONU e honrar suas obrigações para com os trabalhadores humanitários”, diz Ban Ki-moon.
“O ataque de hoje destaca o imperativo de que a matança deve parar – e parar agora”, disse Ban.
Ele disse que continuará trabalhando com os parceiros regionais e internacionais para ajudar a chegar a um acordo para acabar com o conflito “o mais rápido possível” para a população de Gaza e Israel.
Quase 800 mortos
Os últimos dados do Ministério da Saúde palestino apontam que 771 pessoas morreram em Gaza e 4.750 ficaram feridas, com pelo menos 76 mortos somente nesta quinta-feira (24). Mais de 140 mil habitantes de Gaza estão deslocados, segundo a ONU.
Do lado israelense, dois civis foram mortos, com 32 soldados tendo perdido a vida desde o início das hostilidades.
Em Gaza, seis membros de uma mesma família e um bebê de 18 meses de idade foram mortos quando um ataque aéreo israelense atingiu o campo de refugiados de Jebaliya, nas primeiras horas da manhã, segundo funcionários da administração civil de Gaza. Um ataque aéreo contra uma casa em Abassan, perto de Khan Yunis, no sul de Gaza, matou cinco membros de outra família, segundo o ministério.
Assessores especiais da ONU alertam sobre crimes em Gaza
Os assessores especiais do secretário-geral da ONU para a Prevenção do Genocídio, Adama Dieng, e para a Responsabilidade de Proteger, Jennifer Welsch, expressaram preocupação com a escalada de violência em Gaza e o ataque a civis durante a crise que ocorre na região.
“Expressamos choque com o elevado número de civis mortos e feridos nas operações israelenses em Gaza e nos ataques com foguetes lançados pelo Hamas e outros grupos armados palestinos em áreas civis israelenses.”, afirmaram através de um comunicado tornado público nesta quinta-feira (24).
Adama Dieng e Jennifer Welsch afirmaram que o grande número de baixas, especialmente da parte palestina, pode demonstrar uso desproporcional e indiscriminado de força pelo exército israelense.
No entanto, relembrando os ataques provenientes de Gaza em direção a solo israelense, os assessores disseram que “as duas partes em conflito estão violando a lei humanitária internacional e a lei internacional dos direitos humanos e isso pode constituir crimes atrozes”.
Apelando a uma investigação que responsabilize, das duas partes, os possíveis responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade, Dieng e Welsch afirmaram ainda que estão “igualmente perturbados com o flagrante uso de discurso de ódio na mídia, particularmente contra a população palestina”. Leia o comunicado clicando aqui.
‘Ninguém em Gaza está seguro’, diz chefe de agência da ONU
Pierre Krähenbühl, comissário-geral da UNRWA. Foto: UNRWA
Pierre Krähenbühl, comissário-geral da UNRWA. Foto: UNRWA
O comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Pierre Krähenbühl, classificou as “cenas de carnificina e sofrimento humano” vistas na escola em Gaza atingida por ataques desta quinta-feira (24) como “terríveis e intoleráveis”.
Segundo ele, a situação de segurança na área de Beit Hanoun estava se deteriorando rapidamente ao longo do dia. Segundo ele, a UNRWA tinha tentado negociar com as Forças de Israel uma pausa nos combates para garantir um corredor seguro para realocar funcionários e quaisquer pessoas deslocadas que gostariam de partir para um local mais seguro.
“A aprovação para esse pedido nunca chegou à UNRWA. Além disso, as coordenadas da escola tinham sido formalmente comunicadas às autoridades israelenses em 12 ocasiões, mais recentemente às 10:56 desta manhã”, disse Krähenbühl por meio de um comunicado. Leia o comunicado, em português, clicando aqui.
A ONU está acompanhando a crise em www.onu.org.br/especial/gaza

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