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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 15, 2014

Nós criamos Deus por nosso próprio medo e necessidade.

Existência é um. - então como pode o criador e a criação estarem separados? A própria existência é divina. Não há nenhum criador criando-a. Ela em si é o criador. Ela em si é a criatividade.
Nós criamos Deus por nosso próprio medo e necessidade. Nos sentimos tão desamparados na nossa miséria, tão impotentes, tão impotentes em nossa dor, que, por esse medo, criamos um Deus a quem podemos rezar, a quem nós podemos dizer: "Não me dê tanto trabalho"; a quem podemos louvar e sentir que se nós louvá-lo, ele se tornará mais favorável em relação a nós. Você acha que Deus pode nos prejudicar? Se você reza, você acha que ele vai estar do seu lado? Se você não reza, então ele não vai ficar do seu lado?
Os pais de uma criança diziam: "Se você não se comportar bem, Deus vai te castigar." A criança era posta sempre direito no passado. Sempre que ela não estava se comportando bem, ou fazendo algo que os pais achassem que não era bom, eles tinham usado este truque: "Deus vai te castigar; Ele vai ficar zangado", e isso sempre ajudou. Mas desta vez a criança riu. Ela disse, "Não estou preocupado com Deus porque ele não me conhece de verdade." Eles disseram, "isto é algo novo! Você nunca disse isso antes. Como veio a saber que ele não conhece você?"
A criança disse: "Durante duas semanas eu não rezei e nada aconteceu. Sendo assim, ou ele acha que eu estou morto, ou ele se esqueceu completamente de mim. Então, agora, não há necessidade de se preocupar com isso. Agora eu estou livre! Duas semanas e nenhuma indicação..."
Nós criamos Deus para a nossa necessidade. Deus não criou você, você criou Deus. É a sua necessidade, porque você está desamparado. E então você projeta tudo o que falta em você nele. Se você é impotente, você diz que ele é onipotente. Se você é ignorante, você diz que ele é onisciente. Se você é cego, move, e tateia no escuro, você diz que ele é onipresente. Tudo que falta em si mesmo você projeta nele. Este é um truque da mente. Qualquer falta em si mesmo você projeta sobre ele e, em seguida, você acha que o equilíbrio é recuperado. "Agora eu posso orar a este ser onipresente onisciente onipotente e ele vai estar me ajudando."
Estes são truques. Você pode ser ajudado apenas por si mesmo. Claro, a natureza vai estar com você se você estiver com a natureza. Nenhuma outra oração fará. Esta é a única oração. Para mim, a oração é um sentimento, um fluxo com a natureza. Se você quer falar, fale, mas lembre-se, o seu discurso não vai afetar a existência. Isso irá afetá-lo e isso pode ser bom, mas oração não vai mudar a mente de Deus. Você pode mudar, mas se você não está mudando, então é um truque. Você pode continuar a rezar durante anos, mas se não mudar você, largue-a, jogue-a, é lixo, não a leve mais. A oração não vai mudar Deus. Você sempre acha que se você orar, a mente de Deus vai mudar, que ele será mais favorável, que ele vai ser um pouco inclinado em direção a seu lado... Mas não há ninguém que esteja te ouvindo. Este vasto céu não pode ouvir. Este vasto céu pode estar com você se você for com ele - não há nenhuma outra maneira de rezar."
- OSHO

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